O maior doador para a campanha de reeleição do presidente Barack Obama, até agora, é Jeffrey Katzenberg, diretor executivo do estúdio Dreamworks, que produziu as animações Shrek e Kung Fu Panda. Sozinho, ele doou para o democrata cerca de US$ 2 milhões. A quantia é apenas um quarto do que o maior doador do partido republicano, o construtor de casas Bob Perry, de Houston, investiu na campanha de Mitt Romney.
Os dois casos são exemplos de por que a corrida eleitoral deste ano nos EUA será a mais cara da história do país. A empresa de pesquisa de mídia Borrell Associates afirma que a estimativa é que o ciclo eleitoral consuma US$ 9,8 bilhões, incluindo as primárias internas dos dois principais partidos. Em 2008, o gasto no mesmo período foi de cerca de US$ 5 bilhões.
O que aumentou os custos das campanhas norte-americanas foi a aprovação dos chamados Super PACs (Comitês de Ação Política, em inglês) pela Suprema Corte dos EUA, em 2010. Tais organizações podem arrecadar e gastar quantias ilimitadas para promover um determinado candidato.
"Os Super PACs são grupos formados por pessoas que apoiam determinados partidos. Eles são autorizados a receber doações em qualquer valor e anônimas", explica Vanessa Borges, professora de Relações Internacionais no Centro Universitário Jorge Amado (UniJorge).
Segundo Vanessa, a decisão da Suprema Corte era diminuir a possibilidade de corrupção, com o sistema de doações sem limites. "Na prática, no entanto, isso privilegia doações anônimas, que podem favorecer campanhas financiadas por grupos estrangeiros", diz.
Quem tirou vantagem imediata da nova estratégia de arrecadação permitida com os Super PACs foram os republicanos. "Romney tem apoio financeiro de Wall Street e de outras companhias internacionais, especialmente do setor energético", afirma Arthur Dornelles, professor de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
"Obama tem uma inserção diferente nas famílias, arrecadando pequenas quantias. Além disso, tem um vínculo maior com celebridades de Hollywood", observa o docente. De acordo com Dornelles, é por isso que os democratas comemoraram a vitória na arrecadação do mês de agosto, quando fizeram US$ 114 milhões contra os US$ 111 milhões dos republicanos.
Para Otávio Marchesini, professor de Direito Internacional da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), o problema das arrecadações astronômicas, que batem os milhões de dólares nos EUA, é não efetivar o princípio da democracia. "Existia um consenso de que as campanhas eleitorais não podiam ser limitadas em termos de doações. Os Super PACs são entidades que valorizam a ideia de liberdade para doar", diz. "O problema é que essas grandes doações são utilizadas para fomentar ideologias e não para o exercício da democracia. Os candidatos arrecadam mais e aparecem. Mas isso não necessariamente significa que os eleitores vão aparecer nas urnas", explica Marchesini. Como o voto não é obrigatório nos EUA, cabe aos candidatos mobilizar os eleitores. Se o dinheiro faz diferença é algo que veremos em novembro nas urnas.