O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse neste sábado (9) que "já é hora" de o Kosovo obter uma "independência sob supervisão internacional", como proposto no plano elaborado pela ONU, apesar da oposição de Rússia e Sérvia.
Na primeira entrevista coletiva durante sua viagem pela Europa, iniciada na segunda-feira (4), Bush se queixou dos atrasos na aprovação do plano e contou ter dito ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, que "já é hora" de resolver o futuro do Kosovo.
"Tem que haver uma data limite. Isto tem que acontecer", afirmou Bush em um comparecimento com o primeiro-ministro Romano Prodi no Palácio Chigi, sede do Governo italiano.
O presidente americano pediu ao Conselho de Segurança a aprovação do plano elaborado pelo enviado especial da ONU, o finlandês Martti Ahtisaari, que sugere uma "independência sob supervisão" para a província sérvia de maioria albanesa.
"Agora é o momento de avançar com o plano Ahtisaari. Houve uma série de atrasos. Disse que precisava de mais tempo para trabalhar em uma resolução do Conselho de Segurança", afirmou Bush. "Nossa opinião é que o tempo acabou", acrescentou.
O presidente disse que comunicou a posição americana pessoalmente a Putin, que se opõe ao plano de Ahtisaari.
A Rússia, tradicional aliada da Sérvia, ameaçou usar o poder de veto no Conselho de Segurança para bloquear qualquer resolução que leve a uma independência do Kosovo.
Bush reconheceu que é necessário "garantir que os sérvios tenham uma forma de avançar", e sugeriu que isto seja feito com a entrada de Belgrado na União Européia.
"Eu posso falar com os sérvios sobre desenvolvimento econômico, mas posso falar sobre relações melhores" com Washington, disse, em nome dos EUA.
O caso do Kosovo dominará a agenda deste domingo, pois Bush será o primeiro presidente americano a visitar a Albânia, onde se reunirá com as autoridades do país.
"Os kosovares esperam com ansiedade uma decisão do mundo", enfatizou.
Bush também se encontrará com os primeiros-ministros da Croácia, Ivo Sanader; e da Macedônia, Nikola Gruevski, outros dois países que, como a Sérvia, emergiram após o desmembramento da antiga Iugoslávia.
Na entrevista coletiva, o presidente enviou uma mensagem ao Governo da Síria, outro aliado tradicional da Rússia, pedindo que não se intrometa nos assuntos do Líbano.
"É muito importante que influências estrangeiras, como a da Síria, não prejudiquem continuamente o governo" do primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, disse Bush. "Temos que assegurar que o governo de Siniora sobreviva".
Para isso, é necessário que aconteça o julgamento dos culpados do assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, ocorrido em 2005.
"Temos que garantir que haja conseqüências para comportamentos que podem afetar a estabilidade de uma democracia", disse Bush.
Em 30 de maio, o Conselho de Segurança da ONU aprovou, com a abstenção de China e Rússia, a criação de um tribunal internacional para julgar o crime.
Bush chegou na sexta-feira (8) à Itália, vindo da Polônia, no mesmo dia em que num tribunal de Milão começou o julgamento à revelia contra 26 agentes americanos pelo seqüestro em 2003 do imame egípcio Abu Omar. Na ocasião, ele teria sido levado para a base italiana de Aviano, depois para Alemanha e Egito, onde foi preso e sofreu torturas, segundo ele mesmo denunciou.
No entanto, Prodi e Bush não trataram do tema na reunião, segundo o primeiro-ministro.
Na Itália "temos leis claras que seguimos", afirmou Prodi. Ele disse acreditar que o processo judicial não afetará a "amizade e cooperação" entre os dois países.
Enquanto os líderes faziam as declarações, por todo o centro de Roma milhares de pessoas protestaram contra a visita de Bush em duas manifestações, convocadas por grupos antiglobalização e de extrema-esquerda, às que se somaram membros de partidos que fazem parte da coalizão de Governo, de centro-esquerda.
Cerca de dez mil policiais foram mobilizados para controlar os manifestantes e garantir a segurança de Bush, que partirá amanhã para a Albânia.