Washington O presidente norte-americano, George W. Bush, acaba de definir uma nova estratégia espacial que prega a "liberdade de ação" dos Estados Unidos e o direito de proibir, se necessário, seu espaço a qualquer país "contrário aos interesses americanos". "A segurança nacional dos Estados Unidos depende muito do espaço, e esta dependência vai aumentar", afirma o documento estratégico publicado recentemente pela Casa Branca. "Os Estados Unidos vão preservar seus direitos, seus meios e sua liberdade de ação no espaço, e tomarão as medidas necessárias para se proteger no espaço, proibindo, se for necessário, que seus adversários usem meios espaciais contrários aos interesses americanos", diz o texto.
"A liberdade de ação no espaço é importante para os Estados Unidos enquanto potência aérea e marítima", prossegue o documento. O texto rejeita também qualquer tratado proibindo as armas no espaço: "Os Estados Unidos se oporão ao desenvolvimento de novas legislações ou restrições buscando proibir ou limitar seu acesso ao espaço", afirmou ao jornal Washington Post um representante do governo de Bush que não quis ser identificado.
Uma afirmação que suscita o ceticismo dos especialistas. "Mesmo se esta estratégia não afirma explicitamente que os Estados Unidos vão destruir satélites ou colocar armas no espaço, me parece que ela abre a porta para isso", declarou Theresa Hitchens, diretora do Centro de Informação sobre a Defesa, um orgão independente que funciona nos EUA.
Segundo ela, esta análise é confirmada por uma série de documentos publicados pelo exército americano nos quais Washington não faz mistério de suas intenções. Para Hitchens, a nova estratégia também constitui uma importante mudança em relação à do governo democrata de Bill Clinton por sua "visão bem mais unilateralista do espaço".
"Nessa estratégia, os Estados Unidos buscam afirmar seus direitos, mas não reconhecem os direitos dos outros países", considera. Os Estados Unidos exercem atualmente uma supremacia total no espaço. A Rússia perdeu a maioria de suas capacidades e a China ainda está no plano das ambições. Os americanos são os únicos capazes de utilizar os satélites para operações de combate e estão cada vez melhores neste exercício, destacou Michael OHanlon, especialista da consultoria Brookings Institution, durante uma audiência no Congresso, em junho.
No entanto, a supremacia dos Estados Unidos poderia ser ameaçada por outros países. "Os EUA estão muito preocupados com a China", diz Hitchens.
Mesmo concordando com a análise de Hitchens, OHanlon lembrou que os progressos de Pequim ainda eram "limitados" e que eles permaneceriam assim nos próximos anos. "Embora Moscou e Pequim defendam uma proibição das armas no espaço, parece claro que os chineses estudam formas de prejudicar as atuais atividades espaciais americanas", considera Hitchens.
O secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, insistiu na realidade desta ameaça antes mesmo de assumir o cargo. Na época, ele defendeu uma maior proteção dos interesses americanos para evitar um possível "Pearl Harbor do espaço".