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TECNOLOGIA

Cabo submarino abre novo capítulo da disputa EUA-China por domínio da internet

huawei
Apresentação de novo aparelho celular da empresa chinesa de telecomunicações Huawei, em Paris, 26 de março. Os EUA temem que cabos submarinos construídos pela gigante chinesa permitam que a China espione os EUA e outros países. Foto: Eric Piermont / AFP (Foto: )

Estados Unidos e China, as duas maiores economias do planeta, estão em uma disputa acirrada pelo domínio da infraestrutura mundial de internet. A batalha mais recente ocorre no fundo do mar: o governo norte-americano teme que cabos submarinos construídos pela empresa chinesa Huawei permitam que a China espione os EUA e outros países.

O governo americano tenta oficialmente bloquear a participação da Huawei na infraestrutura de telecom (incluindo cabos submarinos) desde 2012, quando a empresa foi oficialmente classificada como "ameaça de segurança".

O medo não é infundado. Cerca de 95% de toda a transmissão de dados intercontinentais passa por estes cabos e, em 2013, Edward Snowden, ex-técnico da NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA), disse que os próprios Estados Unidos grampearam alguns destes cabos, interceptando inclusive informações pessoais da então presidente brasileira Dilma Rousseff e da chanceler alemã Angela Merkel.

Os EUA entendem que, na prática, a Huawei funciona como um braço do governo chinês e desde 2017 está em vigor uma norma da Agência Nacional de Inteligência da China que obriga empresas privadas a cooperarem com os serviços do órgão.

Domínio tecnológico

A agressiva multiplicação dos cabos submarinos construídos pela Huawei é parte importante de um plano do governo chinês que pretende aumentar o domínio tecnológico do país. A empresa concluiu em setembro um cabo de mais de 6.000 quilômetros entre Brasil e Camarões, trabalha em um enorme hub que conectará Europa, Ásia e África e tem dezenas de outros projetos.

O recluso fundador da Huawei, Ren Zhengfei, 74, em sua primeira aparição pública desde 2015, falou com a imprensa no início do ano. Ele disse que a empresa "nunca recebeu qualquer pedido de qualquer governo para fornecer informações impróprias" e negou as acusações de espionagem. Meng Wanzhou, filha de Ren e diretora financeira da Huawei, está presa no Canadá desde dezembro, acusada de violar sanções dos Estados Unidos contra o Irã. Em janeiro foi a vez de um diretor de vendas ser preso na Polônia, acusado de espionagem. Na ocasião, a Huawei disse que as "ações alegadas não têm relação com a empresa". O funcionário foi demitido logo depois.

Muitos outros cabos serão necessários à medida em que pipoca a quinta geração de internet móvel no mundo, a rede 5G, tecnologia da qual a Huawei, maior fabricante de produtos de telecomunicações do mundo, também é distribuidora.

Mas o governo norte-americano já proibiu a Huawei de fornecer tecnologia 5G no país, assim como fizeram os governos de Austrália e Nova Zelândia. O motivo é o mesmo: os equipamentos da empresa poderiam favorecer a espionagem do governo chinês. Os EUA tentam ainda pressionar a Alemanha e outros aliados a fazerem o mesmo.

À reportagem, o MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) disse por email que o ministério considera "a Huawei um player interessante para o Brasil" e que "até o momento nenhum órgão apresentou nenhuma demanda relativa à espionagem".

O ministério informou ainda que a posição do ministro Marcos Pontes é a de que "qualquer decisão sobre a empresa depende de vários atores de governo e deve ser tomada com base em fatos após investigações, se houverem".

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