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Caça a pássaro no Paquistão gera indignação

Um falcão, à esquerda, tentando apanhar um Chlamydotis undulata durante um evento de falcoaria nos Emirados Árabes | Karim Sahib/Agence France-Presse — Getty Images
Um falcão, à esquerda, tentando apanhar um Chlamydotis undulata durante um evento de falcoaria nos Emirados Árabes (Foto: Karim Sahib/Agence France-Presse — Getty Images)

Por décadas, expedições de caça da realeza árabe seguiam para os confins do Paquistão em busca da Chlamydotis undulata — ave migratória cuja carne, eles acreditam, contém poderes afrodisíacos. Aviões de carga transportam tendas e jipes de luxo e pousam em pistas construidas no deserto, seguidos de jatos particulares carregando reis e príncipes dos países do Golfo Pérsico, junto com suas preciosas cargas: caros falcões de caça que são usados para capturar o Chlamydotis de plumas brancas.

A caça deste ano, no entanto, enfrentou dificuldades. Tudo começou em novembro, quando o Supremo Tribunal de Baluquistão cancelou licenças de caça estrangeiras devido a queixas de ambientalistas.

Esses especialistas dizem que o habitat do Chlamydotis, e talvez a sobrevivência em longo prazo da espécie, tem sido ameaçado pelo ritmo feroz da caça.

Essa ordem judicial transformou-se em uma pequena crise política quando um príncipe saudita e sua comitiva desembarcaram no Baluquistão recentemente, atraindo a atenção da mídia surpreendentemente crítica e uma batalha legal. Os ambientalistas estavam loucos da vida com o príncipe — Fahd bin Sultan bin Abdul Aziz, governador da província de Tabuk — que havia matado 2.100 pássaros durante os 21 dias de caça no ano passado, ou 20 vezes mais do que sua quota permitida.

"Isso é uma clara confissão de subserviência aos árabes ricos", diz Pervez Hoodbhoy, professor de Física. "Eles vêm para cá, caçam com impunidade e recebem proteção da polícia apesar de estarem violando as leis locais."

Na década de 70, a caça intensiva no Golfo Pérsico quase extinguiu o Chlamydotis por lá. Quando o pássaro migrava de seus locais de procriação na Sibéria, a recém-enriquecida realeza do Golfo Pérsico se reunia nos desertos e campos de Paquistão.

Para os paquistaneses, a caça se tornou uma oportunidade de ganhar dinheiro e participar de uma forma fácil de diplomacia. Os 29 estrangeiros que receberam licenças para caçar o Chlamydotis este ano incluem os reis do Bahrein e da Arábia Saudita, o Emir do Kuwait e o governante de Dubai. Para obter favores com as comunidades locais, os caçadores árabes construíram estradas, escolas, madrassas e mesquitas, assim como várias pistas de pouso de padrão internacional em lugares improváveis.

O Príncipe Fahd enfrentava pouca censura quando aterrissava em Dalbandin, poeirenta cidade perto da fronteira afegã, para ser recebido por uma delegação chefiada por um ministro de gabinete e que incluía altos funcionários provinciais. Segundo os críticos, sua recepção era a prova do magnetismo monetário da influência saudita no Paquistão.

Nos últimos tempos, a caça também desempenhou um papel, embora involuntário, na guerra dos Estados Unidos contra a Al Qaeda. Durante vários anos, desde 2004, a CIA usou uma pista construída pelos árabes em Shamsi, um vale desértico no Baluquistão central, para lançar ataques de drones contra militantes islâmicos na região tribal do Paquistão.

Os desertos ao redor de Dalbandin foram o local do primeiro teste nuclear do Paquistão em 1998 e são um ponto de passagem para traficantes de heroína e insurgentes do Talibã.

A crescente influência dos países do Golfo Árabe não é universalmente apreciada. Paquistaneses progressistas lamentam sua influência conservadora na sociedade e o envio de petrodólares para grupos jihadistas.

A caça também foi atacada. No Baluquistão, onde o Chlamydotis é o símbolo provincial, alguns caçadores reais tiveram que ser protegidos após rebeldes separatistas baluques abrirem fogo contra seus grupos.

O primeiro ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, mantém relações estreitas com os governantes da Arábia Saudita, que acredita-se tenham injetado 1,5 bilhão de dólares em seu governo no ano passado. Os defensores da caça dizem que a população de Chlamydotis nunca foi pesquisada cientificamente e se queixam de que as visitas reais estão sendo desnecessariamente politizadas.

"Os estrangeiros são uma bênção, não um problema", disse Ernest Shams de Fundação Internacional de Houbara do Paquistão, que trabalha com o governo dos Emirados Árabes Unidos para aumentar o número de Chlamydotis. "Eles trazem muito dinheiro para o país."

Contribuiu Salman Masood

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