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Ao contrário de outros organismos bioluminescentes, os fungos emitem uma luz constante – possivelmente para atrair insetos que transportam esporos | MIKE BELLEMENYT
Ao contrário de outros organismos bioluminescentes, os fungos emitem uma luz constante – possivelmente para atrair insetos que transportam esporos| Foto: MIKE BELLEMENYT

O que me disseram foi o seguinte: saia da cidade, vá na época da lua nova e mantenha sua lanterna desligada. Quando o céu ficar bem preto e for possível enxergar as estrelas cintilando, você conseguirá ver os cogumelos brilhando. 

Existem cerca de 100 mil espécies de fungos, mas apenas 80 delas são bioluminescentes, ou seja, brilham no escuro. Esses cogumelos surgem em florestas tropicais e temperadas das Américas, do Japão, do sudeste asiático, da Austrália e da África do Sul. 

Eles emitem uma luz esverdeada, resultado de uma reação química parecida com a que ilumina a barriga dos vagalumes e a pele das lulas, e constante, ou seja, ela não aparece e desaparece, nem é uma reação a um estímulo como acontece com alguns insetos ou animais marinhos. As moléculas responsáveis pelas cores também são diferentes. Em um estudo recém-publicado na Science Advances, pesquisadores finalmente revelaram o que acontece dentro desses cogumelos exuberantes – em uma escala molecular.  

Com a proximidade da temporada de cogumelos, é possível vê-los brilhando mesmo nos Estados Unidos. Mas serão necessárias prática e paciência e é preciso se preparar para um possível desapontamento ao se dirigir para uma caçada. Dois verões atrás, passei a noite em uma floresta pantanosa perto de Asherville, na Carolina do Norte, procurando três espécies de cogumelos brilhantes. Perdida no escuro com o telefone quase sem bateria e um guia conhecido localmente como Homem Cogumelo, aprendi que eles são imprevisíveis.  

“Nem sempre é possível conseguir o que você quer, quando você quer. Não é como uma loja de conveniência”, diz Alan Muskat, cuja empresa, a No Taste Like Home, promove grupos de visita peculiares em bosques perto de Asheville. 

Também aprendi outras lições. 

Conheça o objeto do seu interesse

Em todos os organismos bioluminescentes, uma pequena molécula chamada luciferina interage com oxigênio e com uma proteína maior de nome luciferase, criando uma energia química que eventualmente é liberada na forma de uma luz fria. Todo organismo tem sua própria versão de luciferinas e luciferases, com propriedades individuais que podem ser úteis. 

Por exemplo, um grupo tentou sem sucesso fazer plantas brilhantes emendando genes de bactérias bioluminescentes. Mas as substâncias químicas envolvidas na bioluminescência dos fungos podem ser mais compatíveis com plantas. 

“Talvez seja tão difícil quanto fazer as pessoas viajarem para Marte ou para outras galáxias, mas pode ser que usemos”, diz Zinaida Kaskova, química da Universidade Médica de Pesquisa Nacional Russa Pirogov, em Moscou, que liderou o estudo de moléculas bioluminescentes dos cogumelos. 

Ao contrário de outros organismos bioluminescentes, os fungos emitem uma luz constante – possivelmente para atrair insetos que transportam esporos – que diminui e se intensifica segundo um relógio circadiano que ainda não foi totalmente compreendido. 

  • Um cogumelo brilhante da espécie ‘Omphalotus olearius’, encontrado na Carolina do Norte, nos Estados Unidos
  • Um cogumelo brilhante da espécie ‘Omphalotus olearius’, encontrado na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Quando as luzes se apagam, o espetáculo começa
  • Alan Muskat, especialista em alimentos selvagens e cogumelos, usa uma luz especial para encontrar cogumelos bioluminescentes.
  • Alan Muskat busca por cogumelos brilhantes na rodovia Blue Ridge, perto de Weaverville, na Carolina do Norte
  • Um cogumelo brilhante da espécie ‘Omphalotus olearius’, encontrado na Carolina do Norte, nos Estados Unidos

Algo exótico no seu quintal 

Na ilha japonesa de Hachijo-jima, pequenos cogumelos comuns – conhecidos localmente como hato-no-hi, ou fogo de pombo – brilham ao longo de trilhas na floresta durante a temporada de chuvas, de maio a setembro. E na mata atlântica do sul do Brasil, o Neonthopanus gardneri, ou flor de coco, parece uma imensa flor radioativa vinda de outro planeta. 

Mas, entre os milhares de fungos que crescem na parte sul das Montanhas Apalaches que eu estava explorando, havia poucos brilhantes. Os grandes corpos alaranjados frutíferos do Omphalotus olearius, ou lanterna-de-bruxa, aparecem em grande número por volta de junho a setembro.  

E há o Panellus stipticus, ou ostra-amarga, um cogumelo de verão que se assemelha a um pequeno ventilador escuro que cresce em troncos. Também é possível encontrar o Armillaria mellea, um fungo algumas vezes parasita também conhecido como cogumelo-do-mel que surge no outono e faz com que a madeira pareça estar brilhando.  

Mas primeiro é preciso encontrá-los. 

Uma ajuda só faz bem

Não se aventure sozinho pela floresta durante a noite. Encontre um guia em um grupo local de busca de cogumelos. Um bom lugar para começar é a North American Mycological Association, uma organização de micologistas profissionais e amadores. 

Muskat, o meu guia, não é um micologista profissional, mas tem décadas de experiência – o suficiente para escrever um livro. Seu senso de humor estranho e sabedoria meio Tao deixaram a busca arrastada menos penosa. Uma semana antes de nos encontrarmos, ele listou “informantes” que forneceram pistas de onde encontrar nossos três cogumelos. Elas incluíam fotos e descrições detalhadas das trilhas onde eles estavam, a que distância poderiam ser encontrados e mesmo as características únicas e tipos de árvores sob as quais crescem. 

Mas as dicas nem sempre funcionam. Passamos duas horas vagando, procurando os cogumelos-do-mel, só para descobrir depois que voltamos que os fungos estavam sob uma árvore pela qual havíamos passado no início da trilha. 

Beleza na podridão 

Foxfire é o termo em inglês para o brilho similar ao de uma brasa que surge quando filamentos parecidos com raízes do cogumelo-do-mel infectam e começam a matar uma árvore caducifólia, geralmente um carvalho. Para ver se o fungo que encontramos brilharia, procuramos pela infestação escura e fibrosa conhecida como rizomorfo, ou cordões miceliais, que parecem cadarços e apodrecem a madeira. 

Muskat descobriu um rizomorfo na base da nossa árvore, mas a madeira de aparência saudável e o cogumelo que parecia morto nos deram a entender que ele não brilharia. Ainda assim ele gritou “apague as luzes”, e esperamos ver pelo menos uma luz fraquinha. Enquanto permitíamos que nossos olhos se adaptassem à escuridão – o que levou por volta de 20 minutos – jogamos um quebra-cabeça mental chamado minuto mistério para passar o tempo. 

Algo estranho no escuro 

O cogumelo-do-mel que descobrimos não deixou nenhuma madeira brilhando, mas enquanto estávamos sentados no escuro vi pequenos pontos verdes: um inesperado aglomerado de cogumelos ostras-amargas, uma das outras espécies, alinhados em um pequeno tronco. 

Mais ostras-amargas apareceram, do nada, em outro lugar onde ficamos desapontados por encontrar apenas cogumelos lanterna-de-bruxa em decomposição. Os mortos pareciam panquecas queimadas cheias de insetos, emitindo apenas uma aura sombria e fantasmagórica. 

À medida que o metabolismo do cogumelo vai diminuindo com a proximidade de sua morte, sua habilidade de criar luz também se vai, explica Kaskova: “Cada vez menos moléculas de luciferina são sintetizadas, então o brilho vai enfraquecendo”. 

Uma surpresa à luz do sol 

Depois de uma noite pouco satisfatória, fomos procurar por outros cogumelos apenas por diversão no dia seguinte. Inesperadamente, encontramos centenas de lanternas-de-bruxa durante o dia. É por isso que devemos sempre trazer uma cesta. Deve ser de madeira ou fibra natural com um fundo de rede para que os esporos dos cogumelos possam voltar para o chão da floresta. 

Para recolher os cogumelos leve uma faca e uma escova. A não ser que você queira que eles fiquem viscosos, traga papel encerado ou uma sacola de papel, nunca de plástico. 

Em casa, coloquei minhas lanternas-de-bruxa com as guelras para cima em uma caixa de papelão no canto de um banheiro sem janelas e esperei que meus olhos se ajustassem. Não levou muito tempo até que conseguisse ver as pequenas brânquias brilhantes. Elas pareciam estar respirando. “Olá, meu amigo verde neon. Ouvi falar muito de você.” 

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