Desde o início da pandemia de Covid-19, a China tem adotado uma política de tolerância zero quando novos surtos da doença são registrados, com lockdowns rígidos em bairros e até cidades inteiras.
Em Xangai, maior cidade da China, com cerca de 25 milhões de habitantes, um lockdown foi imposto em algumas regiões no dia 28 de março. Em 5 de abril, a medida foi estendida para toda a cidade.
Honrando a tradição repressiva do Partido Comunista Chinês, ações implementadas durante o lockdown causaram indignação na população e geraram até mesmo resposta internacional.
As autoridades chinesas suspenderam na terça-feira (12) parte da quarentena, permitindo que cerca de 6,6 milhões de pessoas deixassem suas residências, ainda que muitas tenham sido obrigadas a ficar restritas a seus próprios bairros.
Com mais de 200 mil casos no total, o surto em Xangai já é considerado o maior na China desde o início da pandemia. Mortes não foram relatadas, mas as estatísticas chinesas sobre a Covid-19 não são levadas a sério por especialistas estrangeiros.
Confira uma lista de medidas absurdas adotadas durante o lockdown em Xangai:
Fome, enquanto comida é jogada fora
Durante o lockdown, a população não pode sair para fazer compras, e comida e outros mantimentos estão sendo entregues pelo Estado. Mas a logística é tão ruim que muitos moradores têm relatado nas redes sociais que estão passando fome. A revolta cresceu com imagens de alimentos sendo jogados no lixo.
Um áudio de um telefonema foi divulgado na internet e viralizou: nele, um homem liga para a polícia, relata que não se alimenta há dias e pergunta se poderá comer na prisão se desrespeitar o lockdown e for detido. O policial responde que o morador desesperado seria mandado de volta para casa, porque nem a própria polícia sabe onde comprar comida em Xangai.
Moradores foram para as varandas dos seus apartamentos para cantar e protestar contra a falta de comida e outros mantimentos, e em resposta o governo mandou drones veiculando um áudio para instruir os manifestantes a voltar para o interior dos seus apartamentos.
“Por favor, cumpra as restrições contra a Covid-19. Controle o desejo de liberdade de sua alma. Não abra a janela nem cante”, diz a mensagem veiculada pelo drone.
Crianças separadas dos pais
A política de Covid-zero da China determina quarentena, em hospitais e instalações temporárias (já comparadas por alguns a campos de concentração), para quem testa positivo para a doença, inclusive crianças.
Vídeos de crianças separadas dos pais chorando viralizaram na internet, e o relato de uma moradora de Xangai à revista americana Time dá uma noção desse desespero: sua filha de dez anos ficou sozinha em um hospital por cinco dias.
“Fizemos muitos telefonemas. Eles ficaram repetindo que as crianças têm que ir para a enfermaria infantil e que tem uma equipe lá para cuidar delas. Mas, na verdade, não havia ninguém cuidando da nossa filha. Todas as crianças da enfermaria tinham que cuidar de si mesmas. A situação na enfermaria era meio caótica e elas [crianças] mal viam as enfermeiras, exceto na hora das refeições”, contou a instrutora de ioga Jenny Tao.
Ela e o marido se comunicaram com a filha por mensagens, até que um médico autorizou o reencontro da família.
Médicos, advogados e terapeutas fizeram publicações online criticando a separação de pais e filhos, e diplomatas de mais de 30 países enviaram mensagens ao governo chinês para protestar contra a medida. Uma petição online sobre o assunto foi censurada.
Em resposta, as autoridades chinesas anunciaram em 6 de abril que algumas das crianças com teste positivo para Covid-19 não seriam mais separadas dos pais.
Repressão e censura
Além do infame drone instruindo a população a sair das varandas, cães-robôs também estão sendo utilizados para pregar obediência ao lockdown e adoção de medidas como lavar as mãos e utilizar máscaras.
Publicações em redes sociais criticando o lockdown e suas consequências têm sido censuradas. Quem se arrisca a sair às ruas, nas áreas onde a flexibilização ainda não foi implantada, é preso, e vídeos mostram repressões violentas e agressões contra moradores de Xangai.
Matança de animais
Embora especialistas apontem que a possibilidade de animais domésticos transmitirem Covid-19 para humanos seja muito pequena, vídeos feitos por habitantes da maior cidade da China mostram servidores públicos matando e recolhendo corpos de cães e gatos pelas ruas, ação que parece ter o objetivo de impedir que os bichos passem o vírus adiante.
Um vídeo que causou especial indignação mostra um cão da raça Corgi sendo morto por um funcionário que atua na prevenção da Covid-19: ele o persegue pelo distrito de Pudong e depois o mata com golpes de pá.
Segundo a revista estatal China News Weekly, o dono do animal explicou num grupo online que teve que entrar em quarentena e decidiu deixar o cachorro solto nas ruas para que buscasse comida e “não morresse de fome”.
Ele não havia conseguido ninguém para cuidar do cão durante sua ausência e não tinha ração canina em casa. “Nunca pensei que, após nos separarmos, ele apanharia até a morte”, lamentou.
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