Pelo rádio, ditador jura "morte ou vitória"
O ditador da Líbia, Muamar Kadafi, 69 anos, disse a uma rádio local de Trípoli que abandonou sua fortaleza em Trípoli como parte de uma retirada tática e jurou "morte ou vitória" contra os rebeldes. As declarações foram retransmitidas por uma emissora de tevê da Síria, a Al Orouba TV. Ainda de acordo com os relatos, ele pretendia ontem fazer um pronunciamento ao povo líbio na mesma rádio.
A emissora de tevê Al Jazeera e o jornal britânico Guardian apontam ainda que o ditador confirmou 64 ataques aéreos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra o complexo residencial de Bab al-Aziziyah e que jurou "morte ou vitória" aos "agressores".
Na mensagem divulgada o ditador classifica os rebeldes como "gangues" e diz que suas forças deverão reconquistar a fortaleza de Bab al-Aziziyah.
A suposta mensagem de Kadafi chega após a tomada do complexo ontem, quando os rebeldes líbios anunciaram também que devem transferir o quartel-general da revolução da cidade de Benghazi, no leste do país, para a capital, Trípoli, em até dois dias, segundo informou Ahmed Bani, um dos porta-vozes militares dos insurgentes, à rede de tevê Al Jazeera.
Folhapress
Não haverá disputa armada entre os grupos rebeldes
Para o cientista político tunisiano Hamadi el-Aouni, da Universidade Livre de Berlim, na Líbia pós-Kadafi haverá disputas entre as tribos que lutaram juntas mas sem o risco de o país ser palco de um novo confronto armado, como ocorreu no Iraque depois da queda de Saddam Hussein, em 2003. Em entrevista à Agência O Globo, o analista de 65 anos diz não ver a possibilidade de uma rebelião semelhante na Síria, onde acha mais provável que o regime faça reformas democráticas para ficar. Na sua opinião, os próximos candidatos à revolução democrática são Argélia, Marrocos e Jordânia, e o vírus da democracia, diz ele, está contaminando também os países do Golfo Pérsico.
As forças insurgentes na Líbia comemoraram ontem a mais importante vitória militar do levante popular travado há mais de seis meses no país rebeldes tomaram Bab al-Aziziyah, complexo que abriga a sede do governo e a residência oficial do ditador Muamar Kadafi. Ele segue desaparecido.
Cenas transmitidas pela televisão mostraram rebeldes celebrando dentro do complexo. Insurgentes levantavam a cabeça de uma estátua do ditador como um troféu.
Tropas do governo e moradores favoráveis ao regime, porém, ainda disputam o controle de Trípoli. A violência, inclusive a de rebeldes, preocupa ONGs.
A invasão
Após quatro dias de confrontos, rebeldes líbios invadiram hoje em Trípoli o complexo do ditador, cuja queda parece cada vez mais próxima.
A entrada em Bab al-Aziziyah, o conjunto de prédios que abriga a sede do governo e a residência oficial de Kadafi, é a mais importante conquista militar dos insurgentes desde o início do levante.
Não estava claro, até agora, qual proporção do complexo estava tomada. Os rebeldes creem poder ter pleno controle da capital nos próximos dias.
Também é desconhecido o paradeiro do ditador, mas predomina a tese de que ele se encontra em Bab al-Aziziyah.
À noite, manifestantes antirregime tomaram a simbólica praça Verde, onde Kadafi reunia multidões de simpatizantes até dias atrás. Com os primeiros rumores da entrada dos rebeldes em Bab al-Aziziyah, mulheres eram vistas nas janelas cantando o "iú-iú" tradicional dos festejos em países árabes.
Crianças foram às ruas agitando a bandeira tricolor, usada na Líbia antes do golpe de Kadafi, em 1969.
Ação coordenada
A entrada em Bab al-Aziziyah é fruto de uma ofensiva lançada há várias semanas. A ação envolveu avanço rumo a Trípoli coordenado por sul, oeste e leste e uma intensificação dos bombardeios da Otan (aliança militar ocidental), com respaldo da ONU.
Na chegada à capital, rebeldes enfrentaram forte resistência. Há dezenas de mortos entre civis e insurgentes.
Grupos de moradores de Trípoli que apoiam o regime recorreram em massa a armas pessoais para defendê-lo. Um dos moradores pró-Kadafi apontou uma metralhadora para o repórter ao ser questionado sobre uma eventual mudança de regime.
Trípoli ainda tem vários focos de combate, e há relatos de tiros disparados por franco-atiradores nos arredores do complexo de Kadafi. Causa medo entre oposicionistas o rumor de que agentes pró-Kadafi agitam bandeiras rebeldes para despistar e atacar inimigos.
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