O caixão com o corpo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, foi levado do hospital militar às ruas de Caracas, nesta quarta-feira (6), e uma multidão se aglomerou no entorno para homenagear o líder socialista.
Soldados colocaram o caixão coberto com uma bandeira da Venezuela em um carro, de onde partiu para um cortejo fúnebre até a Academia Militar de Caracas, onde será velado.
"Chávez ao panteão!", gritavam seus partidários, referindo-se ao mausoléu que ele construiu para abrigar os restos do herói da independência Simón Bolívar.
Muitas pessoas choravam e aplaudiam, segurando fotos de Chávez, na despedida.
Autoridades ainda não falaram onde Chávez será enterrado depois de seu funeral de Estado, na sexta-feira.
Chávez morreu na terça-feira, aos 58 anos, após uma batalha de quase dois anos contra o câncer.
Tiros de canhão por toda Venezuela
O ministro da Defesa venezuelano, Diego Molero Bellavia, disse durante a madrugada que a cerimônia de honra pelo líder bolivariano incluirá 21 tiros de canhões da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB). Cada sede militar, independente de onde esteja no território venezuelano, irá realizar os disparos a partir das 8 horas da manhã (9h30 no horário de Brasília).
"Isso (a salva de tiros) será feito por todo o território onde haja uma unidade de artilharia", afirmou o ministro, em entrevista à agência AVN.
Depois, será disparado um tiro a cada hora até que o corpo de Chávez seja enterrado. Assim que a hora e a rota do transporte do corpo sejam decididos, quatro cavalos serão separados para levar o líder.
"Será escoltado por quatro cavalos e, 15 metros à frente, irá um cavalo com uma cadeira, representando o chefe que não está conosco", afirmou.
O ministro comentou também que tem recebido milhares de mensagens de solidariedade de diversas autoridades das Forças Armadas, incluindo almirantes, generais, e marinheiros. Segundo ele, há uma demanda entre os militares para que os restos mortais do presidente sejam colocados ao lado dos de Simón Bolívar, no Panteón.
Foram decretados sete dias de luto nacional e a suspensão de atividades em escolas de todos os níveis, tando em instituições privadas ou públicas. Nas ruas, o clima é de tristeza, enquanto a população aguarda o desfile militar com o corpo do presidente. De acordo com a emissora Globovisión, a capital Caracas amanheceu vazia, com poucos transeuntes e carros.
A morte do líder deixa incertezas no país e um herdeiro político não tão popular: o vice-presidente Nicolás Maduro. Apesar da Constituição venezuelana descrever que o chefe da Assembleia Nacional é o responsável por assumir a liderança do Executivo em caso de "ausência absoluta do presidente", o chanceler Elias Jaua já adiantou que Maduro deve ocupar o posto e convocar eleições em menos de 30 dias.
Diosdado Cabello, presidente da Assembleia, não comentou o assunto sobre a posse até o momento. Em declarações à imprensa, ele lamentou a morte do presidente e pediu que o povo venezuelano continue trabalhando como Chávez havia pedido.
Na sexta-feira, às 10 horas (11h30 de Brasília), haverá uma cerimônia oficial que precederá o enterro do líder venezuelano. O evento contará com a presença de líderes de Estado, que darão o último adeus ao aliado, que ele seja sepultado.
Foco se volta para nova eleição
Em meio à comoção, aliados esperam que o luto público ajude a garantir a sobrevivência da autointitulada revolução socialista quando os eleitores elegerem um sucessor.
Dezenas de milhares de venezuelanos imediatamente tomaram as ruas para homenagear o líder socialista, e o luto e vai continuar durante o velório, nesta quarta-feira.
O futuro das políticas esquerdistas de Chávez, que ganhou a adoração dos venezuelanos pobres mas enfureceu adversários que o acusavam de ditador, agora recai sobre os ombros do vice-presidente Nicolás Maduro, o homem indicado por Chávez para sucedê-lo.
"Na imensa dor dessa tragédia histórica, que tem afetado a nossa pátria, apelamos a todos os compatriotas para estarem vigilantes pela paz, amor, respeito e tranquilidade", disse Maduro.
"Nós pedimos que o nosso povo canalizar essa dor em paz."
Maduro, de 50 anos, ex-motorista de ônibus e líder sindical, provavelmente enfrentará o governador de oposição Henrique Capriles na próxima eleição presidencial.
Autoridades disseram que a votação seria convocada dentro de 30 dias, mas não estava claro se isso significava que seria realizada dentro de 30 dias ou apenas se a data será anunciada nesse período.
Uma recente pesquisa de opinião mostrou Maduro com ampla liderança sobre Capriles, em parte porque ele recebeu a bênção de Chávez como seu herdeiro. É provável ainda que ele se beneficie da onda de emoção após a morte do presidente.
Maduro tem sido um aliado próximo de Chávez há anos e seria muito pouco provável que fizesse grandes mudanças políticas.
Alguns têm sugerido que ele poderia tentar aliviar as tensões com investidores e o governo dos EUA, embora, horas antes da morte de Chávez, Maduro tenha afirmado que os "imperialistas" inimigos tinha infectado o presidente com o câncer como parte de uma série de conspirações com os adversários internos.
Biografia
Chávez nasceu em 28 de julho de 1954, em Sabaneta. Segundo filho entre oito irmãos, antes de se tornar cadete das Forças Armadas, sonhou em ser jogador profissional de beisebol. A infância de Chávez ocorreu em uma época pós-ditadura militar. Na ocasião, a Venezuela vivia os uma democracia incipiente, sob receitas crescentes advindas de petroleiras.
Nas Forças Armadas, enquanto subia na hierarquia militar, estudava os escritos do libertador da Venezuela, Simón Bolívar, além de estudar os filósofos Nietzsche e Plekhanov. Nesta época, começou a prestar atenção à extrema pobreza e desigualdade social do país, em meio ao surgimento de uma elite venezuelana.
Chávez organizou militares em uma conspiração para substituir o que classificava de uma falsa e venal democracia. Em 1992, liderou uma tentativa fracassada de golpe militar. Apesar disso, seu discurso de rendição, transmitido em rede nacional, impulsionou sua carreira política.
Após dois anos de prisão, Chávez foi libertado e adotado como líder nominal por uma coalizão de movimentos de base e partidos de esquerda. Nas eleições de 1998, este grupo o levou à vitória, com apoio não apenas dos pobres, mas de classe média saturada dos partidos políticos tradicionais.
Pouca gente fora da Venezuela, até então conhecida apenas por misses e pelo petróleo, sabia como avaliar a chegada ao poder de um líder temperamental que elogiava Fidel Castro, mas que dizia não ser nem de direita nem de esquerda, mas sim adepto de uma "terceira via" à moda do britânico Tony Blair. Em poucos anos, Chávez se tornou uma das figuras mais reconhecíveis, e polarizadoras, do planeta.
Em abril de 2002, o presidente foi alvo de um golpe de estado, conduzido por elites venezuelanas, com o apoio de George W. Bush. Reconduzido ao poder, Chávez radicalizou seu discurso: passou a declarar-se socialista e estatizou setores da economia. Com a disparada nos preços do petróleo, custeou a abertura de clínicas de saúde equipadas com pessoal cubano e outros programas sociais, aliviando a pobreza.
O presidente era, constantemente, criticado por ter aparelhado a mídia estatal para promover um culto de personalidade. Além disso, oposicionistas o acusavam de ter reforçado o controle sobre as Forças Armadas, o Judiciário e o Legislativo.
Em 2000, um ano depois da aprovação da nova Constituição do país, Chávez voltou a ganhar as eleições. No ano passado, o presidente foi reeleito para um novo mandato de seis anos.
Hugo Chavez, da infância ao poder
Vídeos polêmicos
Hugo Chávez chama o ex-presidente norte-americano George W. Bush de "diabo" na ONU: