Mais mudança
Zapatero deve ser oitavo a cair por causa da crise
Agência Estado
Um inédito Outono Europeu está derrubando em sequência líderes políticos. A próxima vítima da degola é José Luis Rodríguez Zapatero. No poder há sete anos, ele e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) enfrentam eleições gerais na Espanha preparados para o pior: deixar o Palácio Moncloa, sede do poder de Madri, expulsos pela impopularidade causada pela austeridade extrema, a recessão crônica e uma taxa de desemprego digna de guerra, a maior da Europa Ocidental no momento: 21,5%.
Pesquisas de opinião divulgadas na semana anunciam uma ampla vitória do Partido Popular (PP), de centro-direita, e de seu líder, Mariano Rajoy. Em Madri, ninguém tem dúvidas sobre a razão da surra: Zapatero é visto como o vilão, o líder fraco que afundou a Espanha na austeridade e na recessão. Na luta desesperada para evitar a fúria dos mercados, Zapatero multiplicou os cortes nos investimentos e na máquina pública, acentuando a desaceleração. No apanhado dos últimos quatro trimestres, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu apenas 0,8%, porcentual inferior às previsões oficiais de 1,3% e, sobretudo, insuficiente para reverter a tendência do desemprego.
Retorno da direita
Obrigado pela União Europeia e pelos mercados financeiros a montar um governo de coalizão para enfrentar a crise, o novo primeiro-ministro da Grécia, Lucas Papademos, nomeou quatro políticos de extrema direita para o primeiro escalão de seu gabinete. Entre eles estão Makis Voridis, Adonis Georgiadis, membros do Laos, movimento extremista que se tornou a quarta força política do país, e reputados por suas ligações como o antissemitismo na Europa.
A inclusão da extrema direita no governo de Papademos mostra o desespero da classe política de Atenas para encontrar uma base de sustentação no Parlamento. Desde 1974, com a queda da ditadura militar, os partidos de extrema direita vinham sendo mantidos fora do poder. O desafio é aprovar as reformas e os sucessivos planos de austeridade exigidos pela União Europeia, pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e se manter no poder pelo menos até fevereiro de 2012, quando serão realizadas as eleições gerais.
A Câmara dos Deputados da Itália votou uma série de reformas econômicas que têm como objetivo reverter uma queda na confiança do mercado financeiro local que ameaça causar uma crise ainda maior em toda a zona do euro. Com a aprovação do pacote, abre-se definitivamente o caminho para a renúncia do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, algo que era esperado para a noite de sábado (horário local).
As medidas, que incluem uma nova lei orçamentária e que passaram pelo Senado com sucesso na sexta-feira, foram aprovadas sem emendas na comissão de orçamento pelos deputados. Berlusconi, que perdeu a maioria no Parlamento, afirmou na última terça-feira que deixaria o cargo assim que o projeto fosse aprovado.
Almoço
Mario Monti, ex-comissário europeu, que deve formar o próximo governo italiano, almoçou ontem com o primeiro-ministro demissionário. O encontro, o primeiro desde que a crise começou, sinalizou uma maior flexibilidade na posição de Berlusconi e seu partido, o Povo da Liberdade (PDL), sobre Monti. Ontem ainda, Berlusconi deveria realizar uma última reunião de gabinete para, à noite, encaminhar-se para o Palácio do Quirinal, onde entregaria sua renúncia ao presidente Giorgio Napolitano.
A expectativa fica por conta da formação do novo governo, que deve ser altamente tecnocrático para gerenciar as reformas anticrise.
O fim da "dolce vita" e a volta à dura realidade
Agência Estado
Os italianos desfrutaram durante muito tempo de uma "dolce vita" até que tropeçaram diante de uma dura realidade. A prosperidade do pós-guerra permitiu que centenas de milhares de trabalhadores se aposentassem com todos os benefícios antes de completarem 50 anos. Houve excessos no gasto público, que deram lugar a uma enorme burocracia e uma classe política que consome metade da riqueza gerada pelo país a cada ano. Os italianos não esperam muito do governo e não duvidam em sonegar impostos e usar o dinheiro para melhorar a casa, ir ao dentista ou comprar um cappuccino.
Mas agora chegou a hora de pagar décadas de excessos e o preço para sair da crise derivada do endividamento descontrolado é muito maior do que se esperava.
Silvio Berlusconi, o tenaz primeiro-ministro que sobreviveu a muitos escândalos sexuais e a julgamentos de corrupção, para chefiar três governos desde 1994, perdeu as rédeas do poder e não teve a força necessária para levar adiante as reformas urgentes.
Durante a recente cúpula do G-20, Berlusconi pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que supervisione as reformas, uma atitude humilhante para um país com a sétima maior economia do mundo. A crise europeia também faz cambalear outros três governos os da Irlanda, Portugal e Espanha, onde em 20 de novembro haverá eleição geral (leia no quadro acima) e deixou a Grécia lutando para formar um governo de unidade.
Os conflitos do governo italiano refletem o crescente mal-estar provocado pela crise financeira que golpeia o país. A Itália não ficou em pé após a crise financeira de 2008, que fez muita gente perder o emprego, e toma medidas de austeridade que assustam o consumidor O grande temor é que a Itália, que tem dívida de 1,9 trilhão de euros (US$ 2,6 bilhões) entre em moratória e arraste na sua desgraça a zona do euro e até o mundo inteiro.
Ao longo da última década, a Itália saiu da relativa prosperidade dos anos 1990 para um crescente endividamento público e um crescimento econômico muito limitado, sem que soassem os sinais de alarme. Ao contrário do seu governo, os italianos economizam bastante e maioria é proprietária da casa onde vive. Isso evitou que sofresse a violenta crise imobiliária que atingiu a Espanha e outras economias.
Mas a dívida soberana rolada ou contraída nos últimos anos mudou tudo. O governo de Berlusconi, cada vez mais dividido nos últimos tempos, esteve sob intensas pressões para que tomasse medidas cada vez mais impopulares para equilibrar o orçamento e fomentar a expansão econômica, que é a única maneira de reduzir a dívida pública.
As novas medidas para o crescimento incluem um plano para vender bens do governo e estatais, o que geraria 15 bilhões de euros pelos próximos três anos; incentivos fiscais para criar empregos para os jovens e para readmitir as mulheres na força de trabalho. A taxa de desemprego entre os jovens está em 29% e apenas 48% das mulheres estão no mercado formal de trabalho. Em março deste ano, o Istat, Instituto de Estatística do governo italiano, divulgou seu relatório anual, que informou que 1 a cada 4 italianos vive na pobreza 24,7% da população total e acima da média da União Europeia de 23,1%.
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