Movimentação de jornalistas em frente do Palácio de Montecitorio, sede da Câmara de Deputados italiana: após tantos escândalos, Berlusconi perde força com a crise econômica| Foto: Tony Gentile/Reuters

Mais mudança

Zapatero deve ser oitavo a cair por causa da crise

Agência Estado

Um inédito Outono Europeu está derrubando em sequência líderes políticos. A próxima vítima da degola é José Luis Rodríguez Zapatero. No poder há sete anos, ele e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) enfrentam eleições gerais na Espanha preparados para o pior: deixar o Palácio Moncloa, sede do poder de Madri, expulsos pela impopularidade causada pela austeridade extrema, a recessão crônica e uma taxa de desemprego digna de guerra, a maior da Europa Ocidental no momento: 21,5%.

Pesquisas de opinião divulgadas na semana anunciam uma ampla vitória do Partido Popular (PP), de centro-direita, e de seu líder, Mariano Rajoy. Em Madri, ninguém tem dúvidas sobre a razão da surra: Zapatero é visto como o vilão, o líder fraco que afundou a Espanha na austeridade e na recessão. Na luta desesperada para evitar a fúria dos mercados, Zapatero multiplicou os cortes nos investimentos e na máquina pública, acentuando a desaceleração. No apanhado dos últimos quatro trimestres, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu apenas 0,8%, porcentual inferior às previsões oficiais – de 1,3% – e, sobretudo, insuficiente para reverter a tendência do desemprego.

Retorno da direita

Obrigado pela União Europeia e pelos mercados financeiros a montar um governo de coalizão para enfrentar a crise, o novo primeiro-ministro da Grécia, Lucas Papademos, nomeou quatro políticos de extrema direita para o primeiro escalão de seu gabinete. Entre eles estão Makis Voridis, Adonis Georgiadis, membros do Laos, movimento extremista que se tornou a quarta força política do país, e reputados por suas ligações como o antissemitismo na Europa.

A inclusão da extrema direita no governo de Papademos mostra o desespero da classe política de Atenas para encontrar uma base de sustentação no Parlamento. Desde 1974, com a queda da ditadura militar, os partidos de extrema direita vinham sendo mantidos fora do poder. O desafio é aprovar as reformas e os sucessivos planos de austeridade exigidos pela União Europeia, pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e se manter no poder pelo menos até fevereiro de 2012, quando serão realizadas as eleições gerais.

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A Câmara dos Deputados da Itá­­lia votou uma série de reformas econômicas que têm como objetivo reverter uma queda na confiança do mercado financeiro lo­­cal que ameaça causar uma crise ainda maior em toda a zona do euro. Com a aprovação do pacote, abre-se definitivamente o caminho para a renúncia do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, algo que era esperado para a noite de sábado (horário local).

As medidas, que incluem uma nova lei orçamentária e que passaram pelo Senado com sucesso na sexta-feira, foram aprovadas sem emendas na comissão de or­­çamento pelos deputados. Berlus­­coni, que perdeu a maioria no Par­­lamento, afirmou na última terça-feira que deixaria o cargo assim que o projeto fosse aprovado.

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Almoço

Mario Monti, ex-comissário europeu, que deve formar o próximo governo italiano, almoçou ontem com o primeiro-ministro demissionário. O encontro, o primeiro desde que a crise começou, sinalizou uma maior flexibilidade na posição de Berlusconi e seu partido, o Povo da Liberdade (PDL), sobre Monti. Ontem ainda, Berlusconi deveria realizar uma última reunião de gabinete para, à noite, encaminhar-se para o Palácio do Quirinal, onde entregaria sua re­­núncia ao presidente Giorgio Napolitano.

A expectativa fica por conta da formação do novo governo, que deve ser altamente tecnocrático para gerenciar as reformas anticrise.

O fim da "dolce vita" e a volta à dura realidade

Agência Estado

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Os italianos desfrutaram du­­rante muito tempo de uma "dolce vita" até que tropeçaram diante de uma dura realidade. A prosperidade do pós-guerra permitiu que centenas de mi­­lhares de trabalhadores se aposentassem com todos os benefícios antes de completarem 50 anos. Houve excessos no gasto público, que deram lugar a uma enorme burocracia e uma classe política que consome metade da riqueza gerada pelo país a cada ano. Os italianos não esperam muito do governo e não duvidam em sonegar im­­postos e usar o dinheiro para melhorar a casa, ir ao dentista ou comprar um cappuccino.

Mas agora chegou a hora de pagar décadas de excessos e o preço para sair da crise de­­rivada do endividamento descontrolado é muito maior do que se es­­perava.

Silvio Berlusconi, o tenaz primeiro-ministro que sobreviveu a muitos escândalos sexuais e a julgamentos de corrupção, para chefiar três governos desde 1994, perdeu as rédeas do poder e não teve a força necessária para levar adiante as reformas urgentes.

Durante a recente cúpula do G-20, Berlusconi pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que supervisione as reformas, uma atitude humilhante para um país com a sétima maior economia do mundo. A crise europeia também faz cambalear outros três governos – os da Irlanda, Portugal e Es­­panha, onde em 20 de novembro haverá eleição geral (leia no quadro acima) – e deixou a Grécia lutando para formar um governo de unidade.

Os conflitos do governo italiano refletem o crescente mal-estar provocado pela crise financeira que golpeia o país. A Itália não ficou em pé após a crise financeira de 2008, que fez muita gente perder o emprego, e toma medidas de austeridade que assustam o consumidor O grande temor é que a Itália, que tem dívida de 1,9 trilhão de euros (US$ 2,6 bilhões) entre em moratória e arraste na sua desgraça a zona do euro e até o mundo inteiro.

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Ao longo da última década, a Itália saiu da relativa prosperidade dos anos 1990 para um crescente endividamento público e um crescimento econômico mui­­to limitado, sem que soassem os sinais de alarme. Ao contrário do seu governo, os italianos economizam bastante e maioria é proprietária da casa onde vive. Isso evitou que sofresse a violenta crise imobiliária que atingiu a Espanha e outras economias.

Mas a dívida soberana rolada ou contraída nos últimos anos mudou tudo. O governo de Ber­­lus­­coni, cada vez mais dividido nos últimos tempos, esteve sob intensas pressões para que to­­masse medidas cada vez mais impopulares para equilibrar o orçamento e fomentar a expansão econômica, que é a única ma­­neira de reduzir a dívida pública.

As novas medidas para o crescimento incluem um plano para vender bens do governo e estatais, o que geraria 15 bilhões de euros pelos próximos três anos; incentivos fiscais para criar empregos para os jovens e para readmitir as mulheres na força de trabalho. A taxa de de­­semprego entre os jovens está em 29% e apenas 48% das mu­­lheres estão no mercado formal de trabalho. Em março deste ano, o Istat, Instituto de Esta­­tística do governo italiano, divulgou seu relatório anual, que informou que 1 a cada 4 italianos vive na pobreza – 24,7% da população total e acima da média da União Europeia de 23,1%.