O premiê britânico David Cameron, que deixa o cargo na quarta| Foto: Chris J Ratcliffe/AFP

O premiê britânico, David Cameron, anunciou nesta segunda-feira (11) que vai deixar o cargo na próxima quarta (13). A decisão abre oficialmente o processo de sucessão no governo do Reino Unido, que deve ser assumido pela atual secretária do Interior, Theresa May.

CARREGANDO :)

Favorita para ser a nova premiê desde que Cameron anunciou que deixaria o governo, após o plebiscito que decidiu pela saída britânica do Reino Unido, em junho, May se consolidou como única candidata a premiê depois que sua concorrente, Andrea Leadsom, desistiu da disputa, também nesta segunda (11).

Com esta desistência, May fica livre para suceder David Cameron, que anunciou sua renúncia no dia 24 de junho, pouco depois da divulgação do resultado do referendo sobre a permanência do país na União Europeia (UE).

Publicidade

Governo britânico rejeita petição por nova votação sobre Brexit

Leia a matéria completa

Sua confirmação fará o Reino Unido voltar a ter uma mulher como governante quase 26 anos após Margaret Thatcher o poder.

Segundo Cameron, ela tem amplo apoio dos parlamentares conservadores, o que a consolida como escolha para liderar o governo.

“Teremos uma nova primeira-ministra neste prédio atrás de mim na noite de quarta-feira”, disse Cameron aos jornalistas posicionados diante de sua residência em Downing Street.

Publicidade

O premiê informou ainda que vai participar de uma sessão final no Parlamento britânico na quarta (13) antes de visitar a rainha Elizabeth 2ª para entregar sua renúncia.

A rainha tem a função de indicar oficialmente o novo governante.

Fim da disputa

Leadsom, política favorável ao Brexit, jogou a toalha durante um breve discurso à imprensa em Londres, apenas quatro dias depois de ter sido selecionada pelos deputados para competir como futura líder do partido conservador e pelo cargo de primeira-ministra britânica.

Reconhecendo que May conta com maior apoio por parte dos parlamentares “tories”, Leadsom se alinhou a ela. “Encontra-se idealmente posicionada para colocar em andamento o Brexit da melhor maneira possível para os britânicos, e prometeu que o fará”, declarou a secretária de Estado.

As duas mulheres disputariam a liderança do partido nos próximos meses, em uma votação na qual estavam convocados os 150 mil militantes partido conservador.

Publicidade

“Brexit é Brexit”

May, uma eurocética que passou para o campo dos partidários por se manter na UE durante a campanha para o referendo, indicou mais cedo nesta segunda-feira que respeitará a vitória dos pró-Brexit, deixando poucas esperanças para aqueles que pedem uma segunda consulta sobre a UE.

“Não poderia ser mais clara: não haverá uma tentativa para permanecer na UE”, declarou nesta segunda-feira pela manhã em uma declaração realizada em Birmingham (centro da Inglaterra). “Brexit significa Brexit” e “nós faremos isso com êxito”, insistiu ela, que se converterá na segunda mulher a assumir o cargo de primeiro-ministro do país.

No domingo, a chanceler alemã Angela Merkel disse estar convencida de que o Reino Unido ativará o artigo 50 do Tratado de Lisboa para oficializar sua decisão de sair da UE.

“A decisão do meu ponto de vista” caiu quando os britânicos resolveram por maioria que desejavam sair da UE, disse.

Oposição

Enquanto isso a guerra prosseguia no seio da oposição trabalhista, depois que a deputada Angela Eagle anunciou sua candidatura para retirar Jeremy Corbyn da liderança da formação.

Publicidade

Esta candidatura abre caminho para novas eleições para designar o chefe do partido, no qual as divisões foram exacerbadas após a vitória do Brexit.

Eleito triunfalmente em setembro passado à frente do ‘Labour’ graças aos votos dos militantes, Corbyn não conseguiu se impor entre vários dirigentes do partido, que o consideram muito à esquerda e incapaz de vencer as eleições legislativas.

As críticas foram redobradas nas últimas semanas, com o voto de uma moção de confiança dos deputados trabalhistas e a renúncia dos dois terços de seu gabinete fantasma.

Theresa May, a ascensão de uma política discreta

Filha de um vigário da Igreja Anglicana, Theresa May deverá se tornar primeira-ministra do Reino Unido na próxima quarta-feira (13), após David Cameron anunciar sua renúncia nesta manhã. Será a primeira mulher a assumir o cargo desde Margaret Thatcher, conhecida como a Dama de Ferro.

Uma sucessão de fatos nas últimas horas acelerou a disputa, depois de sua única concorrente desistir inesperadamente da corrida pela liderança nesta segunda-feira, acabando com a necessidade de uma votação final.

May, de 59 anos, já estava à frente do Ministério do Interior desde 2010 — um dos cargos mais difíceis no governo. Entre os candidatos à sucessão de Cameron, era considerada uma das mais preparadas.

Ela estudou Geografia na Universidade de Oxford, trabalhou no Bank of England após se formar e como consultora financeira da Association for Payment Clearing Services (APACS). Foi eleita para o Parlamento em 1997.

Em 2002, se tornou a presidente do Partido Conservador (responsável pela administração da máquina partidária), após um discurso famoso em que disse que as pessoas viam a legenda como “um partido sujo”.

“Sei que não sou uma política em evidência”, disse ao anunciar que disputaria a liderança, em junho. “Não vou aos estúdios de TV. Não fofoco sobre pessoas no almoço. Não bebo no bar do Parlamento. Apenas faço o trabalho que tenho diante de mim”.

May tem diabetes Tipo 1 e toma injeções de insulina várias vezes ao dia. Ela se descreve como uma cristã praticante e tem mais de cem livros de culinária.

“Gosto de manter minha vida pessoal. Não tivemos filhos, lidamos com isso e seguimos em frente. Espero que ninguém considere isso importante”, disse ela, citando um tópico que acabou sendo usado pela adversária Andrea Leadsom contra ela.