O governo do Chile vive um paradoxo: o candidato da presidente mais apreciada nos últimos 20 anos conseguiu o pior resultado nas urnas em cinco eleições no período.
Diante da ameaça de derrota para Sebastián Piñera, um empresário de centro-direita que venceu o primeiro turno com 44% dos votos, o governo da socialista Michelle Bachelet, aprovado por quase 80% dos chilenos, entrou de cabeça na campanha no segundo turno.
Para tentar transferir votos ao ex-presidente Eduardo Frei (1994-1999), dono de 29% dos votos no primeiro turno, Bachelet cedeu assessores-chave à campanha, direcionou a agenda legislativa do governo e reforçou o discurso em temas caros à esquerda como os direitos humanos, objeto do Museu da Memória, projeto de US$ 20 milhões inaugurado na última segunda, a seis dias do pleito.
A construção recorda violações cometidas no regime militar (1973-1990), principal munição da Concertação a coalizão de Bachelet e Frei contra a direita no país.
Na semana anterior, a presidente havia dado urgência a projetos de lei defendidos por Marco-Enríquez Ominami, o deputado dissidente do governo que teve 20% no primeiro turno. Depois do anúncio, Ominami declarou voto em Frei.
Logo após o primeiro turno, Bachelet já havia impulsionado projeto que obriga governantes com mais de US$ 19 milhões de patrimônio a abrir mão da gestão de bens durante o mandato. Uma das maiores apostas de Frei é apontar conflito de interesses pela condição de empresário de Piñera, cujo patrimônio é estimado em US$ 1 bilhão.
"O governo jogou forte para ajudar Frei na reta final, quase transpondo o limite da prudência, disse o analista Guillermo Holzmann, da Universidade de Valparaíso.
Piñera acusou o golpe ao criticar hoje intervenção "abusiva do governo na campanha. O golpe a Piñera se reflete nos números: Frei reduziu a diferença e chega à eleição de domingo 1,8 ponto atrás do rival empate técnico, segundo pesquisa Mori. Mas o próprio comando do empresário reconhece que a campanha de Frei melhorou no segundo turno.
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