Ryan Hreljac não tem mais o ar infantil que ficou conhecido mundo afora, antes mesmo do fenômeno de viralização na internet. Em 1997, o menino canadense de 6 anos ficou incomodado ao descobrir que crianças na África não tinham acesso à água. Decidiu que precisava agir e juntou, durante quatro meses de serviços domésticos, os US$ 70 (equivalente hoje a R$ 280) que um professor havia dito que eram necessários para abrir um poço. Mas o dinheiro pagava apenas a bomba manual. Ryan não desistiu e começou, então, uma campanha emocionante que se espalhou por vários países. De lá para cá, mil poços abertos em 16 nações beneficiam 1 milhão de pessoas.
É muito importante fazer as crianças trabalharem duro para compreender que nada se consegue facilmente no mundo
Além das ações práticas para resolver problemas concretos e destacar a necessidade de preservação da água, Ryan – hoje recém-formado em Ciência Política Internacional e aos 24 anos – também se dedica a engajar pessoas. Já esteve em dezenas de conferências internacionais e deu palestras, pela internet, para centenas de escolas pelo mundo. Ele é um dos palestrantes do 8º Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), que começou na segunda-feira (21) e vai até sexta-feira (25), no Expo Unimed, em Curitiba. Ryan fará parte de um painel, na quarta-feira (23) pela manhã, restrito a participantes inscritos, com o tema “Atitudes de líderes que nos inspiram”. A Gazeta do Povo conversou com ele, via Skype, sobre o trabalho que vem desempenhando na Ryan’s Well Foundation. Confira a entrevista em que ele defende que nunca se é jovem demais para se engajar em uma causa.
Você acredita que os jovens estão engajados nas questões ambientais?
Na juventude eu acho que há diversas coisas que nos desencorajam a respeito de se envolver. Mas nessa fase você tem habilidades de olhar para os problemas de uma maneira mais simples. Quando eu era criança, não entendia o tamanho e a complexidade do problema. Mas porque eu queria fazer a diferença, eu fui lá e fiz. E eu não acho que os adultos têm esse tipo de mentalidade, sabe? Esse jeito de olhar razões para fazer algo, ao invés de olhar razões para não fazer algo. Você nunca é jovem demais para se engajar.
Como foi o seu primeiro contato com a perspectiva da falta de água?
Quando estava na primeira série, meu professor falou que iríamos arrecadar fundos para países subdesenvolvidos. E o que o meu professor teve que explicar, porque nós tínhamos apenas 6 anos, era que nem todas as crianças tinham acesso à água limpa. Ele disse que essas crianças tinham que andar mais de cinco quilômetros para conseguir água limpa. Só que eu não sabia quanto era cinco quilômetros e ele disse “são 5 mil passos”. Então eu fiz o caminho da minha sala para o bebedouro e vi que davam 10 passos e então fui e voltei algumas vezes para saber o quão longe seria o percurso dessas crianças. Eu acho que uma coisa que aprendemos especialmente quando somos crianças é sobre dividir e ter a consciência de justiça.
Já existem muitas razões para você não fazer algo. Meu conselho é procure aquilo que você pode fazer para dar o primeiro passo, mesmo que seja uma coisa pequena
O que você percebe nas conversas com jovens?
Eu falo com diversas salas de aulas pelo Skype. Converso o tempo todo com jovens que ouviram falar sobre o projeto e querem fazer a diferença com as próprias mãos. Acho que é uma questão de dar a eles as ferramentas que eles precisam e que irão permitir que mudem o entorno, a comunidade. Algumas vezes não é nem sobre água. É sobre algo diferente, às vezes até mais simples do que eu fiz. Diferentes pessoas, diferentes paixões. Eu acho que às vezes é muito fácil ignorar as intenções inocentes das crianças. A meu ver é muito importante fazer as crianças trabalharem duro para compreender que nada se consegue facilmente no mundo.
E como os adultos podem agir para não desmotivar os mais novos?
Meu conselho para educadores e pais é oferecer as ferramentas e motivações para eles fazerem algo com o que eles apreciam e se importam, algo envolvendo os interesses, paixões ou mesmo problemas sociais, algo para a comunidade, para a escola ou bairro. Não deixe eles de lado, não os ignore por achar que são sonhadores. Não diga “não, isso não é possível, isso é difícil” e não fique procurando razões e desculpas para provar como essas intenções não são possíveis de serem alcançadas. Procure uma maneira positiva de avaliar como você pode ajudá-los, mesmo que seja em uma proporção bem pequena.
Quais conselhos você dá para quem quer se engajar em uma causa?
Já existem muitas razões para você não fazer algo. Meu conselho é procure aquilo que você pode fazer para dar o primeiro passo, mesmo que seja uma coisa pequena. Acho que a gente precisa se renovar e lembrar como era pensar como uma criança de 6 anos, pensar de maneira ingênua sobre o que você pode fazer e aplicar esse pensamento em uma decisão boa para tomar. Eu acho que é uma questão de lembrar como era ser jovem e usar a experiência e a lógica para conseguir as coisas. Portanto, eu digo, dê o primeiro passo.
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