Washington (AFP/Reuters) A assessora da Casa Branca Harriet Miers desistiu abruptamente ontem de ocupar uma vaga na Suprema Corte dos Estados Unidos, para a qual havia sido indicada pelo presidente George W. Bush, devido a críticas da direita e da esquerda sobre suas credenciais para o emprego vitalício. Bush disse em nota que aceitou com relutância a desistência e que em breve preencherá a vaga aberta pela iminente aposentadoria da juíza Sandra Day OConnor. Em carta a Bush divulgada pela Presidência, Miers disse temer que a sabatina no Senado "representasse um ônus para a Casa Branca e para os nossos funcionários, o que não é do melhor interesse do país".
Alguns senadores conservadores duvidavam que Miers fosse suficientemente conservadora a ponto de levar a corte de nove juízes, atualmente dividida, a uma guinada para a direita. Os democratas, por outro lado, questionam a posição dela a respeito do direito ao aborto, tema altamente polêmico que pode chegar à Suprema Corte.
Ao explicar sua desistência, Miers, 60 anos, uma texana fiel ao presidente, disse que pretende manter a privacidade dos registros internos do seu trabalho no governo, aos quais alguns parlamentares queriam ter acesso. Miers não tem experiência como juíza, mas possui uma sólida carreira como advogada e também como conselheira jurídica da Casa Branca. Solteira, sem filhos, ela pertence ao círculo de aliados mais próximos do presidente Bush, que sempre elogiou sua carreira "de pioneira no mundo do direito". Miers continuará como assessora da Presidência.
Revés
A desistência de Miers representa mais um golpe para Bush, que este ano tem enfrentado grandes crises e uma acentuada queda de popularidade (veja quadro acima). Mesmo que refute tal idéia, ao aceitar a retirada de Miers, o presidente dá a impressão de ter cedido às pressões de sua base eleitoral conservadora e religiosa, que criticou duramente sua escolha.
Os movimentos de extrema direita, que pregam a "revolução conservadora" e cujo denominador comum é muitas vezes uma firme oposição ao direito ao aborto, militam há anos para que a Suprema Corte, que tem nove magistrados nomeados de forma vitalícia, oscile para o lado deles. Após a mobilização em massa para a reeleição de Bush em 2004, eles consideram que o presidente lhes devia essa oscilação.Peso
Na divisão dos poderes da democracia americana entre Executivo, Legislativo e Judiciário, a Suprema Corte tem a última palavra nos grandes temas de sociedade, como o direito ao aborto, a eutanásia, a pena de morte ou os direitos das minorias. A Corte molda a sociedade por uma geração ou mais, enquanto que um presidente não passa mais de oito anos no poder.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura