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Biologia

Cão ajuda pesquisadores a salvar espécies ameaçadas de baleias nos Estados Unidos

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Com o rabo balançando e um misterioso passado como cão de rua em Seattle, um cachorro chamado Tucker se tornou uma estrela inesperada no mundo dos cães cientistas. Segundo os pesquisadores, ele é o único cão farejador do mundo capaz de sentir o odor das fezes de orca em oceano aberto – a mais de 1,5 quilômetros de distância do menor detrito.

Com a ajuda de muito trabalho e da obsessão por uma bola laranja amarrada a uma corda – com a qual pode brincar sempre que a busca é bem sucedida –, Tu­­cker é um ás na detecção de algo que a maior parte das pessoas, e provavelmente dos cachorros, não gostaria de encontrar.

E seu trabalho não é nada fácil. As fezes podem afundar ou se dispersar em menos de 30 minutos. Entretanto, elas são fundamentais para o monitoramento da saúde das baleias da região, um grupo ameaçado e que provavelmente faz parte de uma das populações de animais mais estudadas do planeta.

Mais de 85% das orcas que frequentam a costa da ilha de San Juan, cerca de duas horas a nordeste de Seattle, foram genotipadas e possuem décadas de informações registradas a seu respeito, desde o ano de nascimento até o número de filhotes.

E nada disso poderia ser feito com tanta facilidade se não fosse por Tucker e seu nariz preto e úmido – ou sem os novos truques que ele ensina aos cien­­tistas.

"Às vezes­­ ele vira, se senta e fica­­ olhando pa­­ra mim, es­­perando que­­ eu descu­­bra o que ele ­­quer", afir­­mou De­­bo­­rah­­ A. Giles, que está ter­­mi­­nando um­­ doutorado a respeito de como as orcas da região foram afetadas pelos milhares de observadores de baleias e dos barcos de observação particulares que se­­ aglomeram ao seu redor.

"Ele é muito sutil", afirmou Giles, por trás do leme do barco de pesquisa Moja, enquanto Tucker, um cão preto de 8 anos de idade, misto de labrador, corria pela proa durante uma recente manhã.

É melhor esclarecer desde o princípio: cocô de orca não cheira assim tão mal. Talvez porque o animal se alimente basicamente de salmão chinook – o mais saboroso, de acordo com muitos amantes dos frutos do mar – o cheiro é mais de peixe do que de podre.

Entretanto, diferentemente dos cães farejadores de drogas, que podem andar presos por coleiras, é a embarcação de pesquisa que funciona como as pernas de Tucker, quando ele fareja o odor. O cão não pode ir fisicamente ao local onde a amostra está, mas precisa sinalizar a direção para onde quer que o barco vá, farejando o odor das fezes espalhadas em algum lugar da superfície.

Como o oráculo de Delfos, ele exige que cada expressão seja interpretada por seus acólitos – afinal, Tucker pode se dirigir a um dos lados do barco, depois ao outro e, então, voltar repentinamente para seu colchão verde, com a cabeça entre as patas e a trilha perdida – quando seu focinho encontra outra trilha, todos precisam segui-lo.

"O menor movimento de suas orelhas é importante", afirmou Elizabeth Seely, uma treinadora que trabalhou com Tucker durante quatro anos em uma organização não governamental chamada Conservation Canines, especializada em cães que ajudam pesquisadores a cuidar de espécies ameaçadas. Ela ficou ao seu lado durante uma recente busca pelas fezes, transmitindo discretos sinais para Giles, enquanto a pesquisadora pilotava – um pouco mais à direita, mais à esquerda, dê a volta – conforme Tucker sugeria a partir de sua postura e nível de atenção.

Entretanto, parece que todas as criaturas estão aprendendo novos truques nessas águas. Os salmões começaram a se esconder embaixo de embarcações comerciais de observação de baleias, quando são caçados pelas orcas. Os barcos, por sua vez, estão repletos de pessoas – na alta temporada mais de 500 mil passam por lá entre maio e outubro – que pagaram para ver baleias e que, em muitos casos, voltam para casa querendo ajudá-las de alguma maneira, segundo cientistas e os operadores desses barcos. Em troca, os amantes de baleias reforçam as engrenagens da economia local, que depende cada vez mais da presença de baleias.

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