Após a decisão do governo da Venezuela de retirar de circulação as notas de 100 bolívares, sob suspeita de que máfias na Colômbia e no Brasil estariam contrabandeando cédulas, a Polícia Federal (PF) reforçou o efetivo na fronteira em Roraima para aumentar a capacidade de procedimentos e fiscalização de entrada e saída no estado, em medida adotada em comum acordo com o Ministério da Justiça. Segundo a PF, a decisão se deve à crescente movimentação de venezuelanos na fronteira.
Fechada na noite de quarta-feira (14), a fronteira entre o Brasil e a Venezuela continua interditada até a noite desta sexta (16) por determinação do governo venezuelano, que afirma combater o contrabando de notas de 100 bolívares que – nas palavras do presidente Nicolás Maduro – seria praticado por máfias atuando em complô orquestrado pelos Estados Unidos para asfixiar a economia do país.
Em comunicado à agência AFP pouco após a decisão ser anunciada à embaixada brasileira em Caracas, o Itamaraty disse tratar-se de “uma questão de aspectos internos do país vizinho, que não cabia ao Brasil comentar”.
Dois estados brasileiros, Amazonas e Roraima, se encontram na fronteira, de 2.200 quilômetros, que divide Brasil e Venezuela. Na segunda-feira (12), o governo de Caracas já havia ordenado o fechamento da fronteira com a Colômbia por 72 horas, utilizando argumentos semelhantes. Segundo autoridades, 88 bilhões de bolívares em notas de 100 foram apreendidos nas últimas 48 horas na região.
A polêmica envolvendo a decisão de retirar de circulação notas de 100 bolívares ganhou novos tons na quinta-feira, dia de pagamentos quinzenais no país. Enquanto as cédulas suspensas já não são mais aceitas por estabelecimentos comerciais, as novas moedas e notas anunciadas pelo governo, e que passariam a circular a partir de quinta-feira, não estavam disponíveis nos bancos do país.
De acordo com o deputado Simón Calzadilla, segundo vice-presidente da Assembleia Nacional, autoridades afirmaram que as remessas com as novas cédulas só chegarão aos bancos na manhã de hoje. “As cédulas não foram entregues. Prometeram para amanhã (hoje). Tremenda irresponsabilidade”, protestou Calzadilla no Twitter.
Nas principais cidades do país, venezuelanos se queixavam não apenas da ausência das cédulas novas, mas também das longas filas que se formaram nos bancos. Em muitos casos, a espera para trocar as notas anuladas poderia superar cinco horas, o que impediu muitos trabalhadores de se desfazerem de suas cédulas.
“Sou autônomo e estou a dois dias sem trabalhar porque tenho que ir para a fila trocar dinheiro”, afirmou ao diário venezuelano “El Universal” o cozinheiro Raúl Montilla, que enfrentou uma espera com mais de 700 pessoas para realizar a troca no Banco Venezuela, na capital.
Embora o governo afirme que a decisão de suspender as cédulas seja uma ferramenta para combater a evasão ilegal e a corrupção, analistas acreditam que a medida pode, na verdade, estar facilitando a disseminação da lavagem de dinheiro no país. É o que afirma o advogado Alejandro Rebolledo, especialista no tema, que questiona a decisão da Superintendência de Bancos de permitir a abertura de contas bancárias sem qualquer outro requisito além da carteira de identidade.
“Ao flexibilizar exigências bancárias e não pedir explicação sobre a origem das cédulas de 100 bolívares, as de maior valor em circulação, o dinheiro oriundo do crime, cobrado obviamente em espécie, tem uma porta de entrada no sistema bancário do país, ganhando aparência de legitimidade”.
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