Caos e confusão marcaram nesta quarta-feira (10) o primeiro dia do racionamento de luz imposto pelo governo do Venezuela a centros comerciais para tentar atenuar efeitos da seca prolongada. No país, 75% da energia é produzida em centrais hidrelétricas.
O Ministério da Energia Elétrica havia anunciado na semana passada que os shoppings deveriam gerar sua própria eletricidade das 13h às 15h e das 19h às 21h. A medida se aplicaria por um prazo de três meses, de segunda a sexta, em todo o país, que já sofre crise econômica, definida pelo governo como “catastrófica.”
Mas, nos principais shoppings de Caracas, ninguém parecia entender como funcionaria o racionamento.
Às 13h, quando deveria ter começado o primeiro período sem luz, comerciantes fecharam suas lojas temendo um corte repentino nocivo para equipamentos ou a chegada de fiscais do governo.
Mas, ao menos nos pontos mais movimentados da capital, não houve nem corte nem fiscalização ostensiva.
No shopping San Ignacio, o empresário Hector Rivas, dono de um café, perambulava em busca de explicação. “O acesso dos clientes ao shopping foi bloqueado, mas todas as lojas têm luz. Ninguém sabe se o governo está pedindo uma contribuição voluntária dos lojistas para aliviar a demanda ou se alguém apertará num botão que nos deixará sem energia”, indignou-se.
Devido ao horário do primeiro corte, donos de restaurantes estão entre os mais afetados.
‘E se ele não voltar?’
No shopping CCCT, Francis Pérez, gerente de um restaurante de carnes, agitava-se em discussões com garçons sobre como proceder para receber o pagamento de clientes. “Se cair a luz e o cliente não tiver dinheiro para pagar, deixamos que vá embora e volte para acertar a conta depois? E se ele não voltar?”, questionava.
Pérez criticou o governo chavista por infernizar a vida dos comerciantes ao praticamente proibir demissões e, agora, anunciar um racionamento que trará prejuízos inevitáveis. “Não posso cortar pessoal, mas como faço para pagá-los se não há arrecadação?”.
Dona de um salão de beleza no shopping CCCT, Martha (que não quis dar o sobrenome) teve de recusar clientes a partir do meio dia com medo de que a luz fosse cortada durante o atendimento. “As pessoas não estão muito a par do racionamento. Vários clientes resmungaram que iriam buscar atendimento em outros centros comerciais, mas todos estão sujeitos à medida”, afirmou.
“Hoje estou levando na boa, mas como será dentro de uma semana? Me dá vontade de chorar só de pensar.”
Um dos poucos shoppings a possuir geradores de alta potência, o Sambil se adiantou aos cortes e acionou suas fontes de energia para manter o abastecimento de farmácias, lanchonetes e escada rolantes.
Diretores, porém, ainda tentam convencer o governo a adotar um sistema de racionamento do meio-dia às 19h, para evitar a dupla interrupção durante o dia.
A Câmara Venezuelana de Centros Comerciais, Comerciantes e Afins (Cavececo) diz que os shoppings representam apenas 6% do consumo de energia. O grêmio empresarial também afirma que o racionamento ameaça um setor que movimenta meio milhão de empregos.
A oposição diz que os efeitos da seca são reais, mas acusa o governo de ter sucateado a infraestrutura hídrica e elétrica do país ao administrar o sistema de maneira ineficiente e sob critérios ideológicos.
Autoridades dizem que a medida não é nova, já que um decreto-lei de 2011 obriga grandes consumidores de energia a suprir suas necessidades por meios próprios em horários de pico.
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