O ex-capelão da polícia Christian Von Wernich foi condenado nesta terça-feira (9) à prisão perpétua por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura militar na Argentina.
Von Wernich, de 69 anos, foi considerado culpado de sete homicídios, 31 casos de tortura e 42 seqüestros, no primeiro julgamento contra um padre ligado a uma ditadura da América Latina.
O sacerdote escutou a sentença com um semblante imperturbável, diante do tribunal na cidade de La Plata, 60 km ao sul de Buenos Aires.
"Acreditamos que os passos que a Justiça dá no esclarecimento destes fatos devem servir para renovar os esforços de todos os cidadãos no caminho da reconciliação e são um apelo contra a impunidade, o ódio e o rancor", disse a cúpula eclesiástica.
A decisão foi festejada por centenas de manifestantes de organismos de defesa dos direitos humanos e membros de partidos políticos, que cantaram e soltaram fogos, além de queimar um boneco de Von Wernich.
"Se fez justiça! É um dia histórico que jamais as Mães da Praça de Maio pensaram em viver. É algo muito forte!", disse Tati Almeyda, uma das líderes da organização humanitária.
Eduardo Luis Duhalde, secretário de Estado dos Direitos Humanos do governo de Néstor Kirchner, destacou que é preciso "seguir condenando todos os culpados pela repressão ilegal".
Demoníacos
Antes de escutar a sentença, o ex-capelão da polícia chamou de demoníacos os sobreviventes dos campos clandestinos da ditadura que testemunharam contra ele: "O falso testemunho é o demônio, porque está emprenhado de malícia".
Von Wernich se comparou a Jesus Cristo ao dizer em sua defesa que o iniciador do cristianismo "teve um julgamento apoiado pelo povo, as pessoas pediram que Ele fosse crucificado, mas depois ressuscitou".
Um alarme falso de ameaça de bomba no tribunal fez com que a sala fosse evacuada, quando todos esperavam pela sentença.
Membros do corpo de bombeiros revistaram o tribunal enquanto dezenas de pessoas aguardavam no pátio externo da corte. No final, nada foi encontrado.
Acusações
O ex-capelão era acusado de co-autoria nos homicídios de Domingo Moncalvillo, María del Carmen Morettini, Cecilia Idiart, María Magdalena Mainer, Pablo Mainer, Liliana Galarza e Nilda Salomone, todos seqüestrados pela repressão.
Von Wernich era acusado ainda de torturar o falecido jornalista Jacobo Timerman, fundador e diretor do jornal La Opinión, na década de 70.
Como capelão da polícia, Von Wernich atuou em centros clandestinos de extermínio na província de Buenos Aires, sob o comando do falecido general Ramón Camps, considerado pelos organismos humanitários como o senhor da morte durante a ditadura militar.
"Von Wernich não teve escrúpulos em utilizar sua condição de padre para colaborar com a repressão. Fazia parte de um conhecido grupo de torturadores como agente de inteligência e tinha a batina suja de sangue", disse durante o julgamento o advogado Alejo Ramos Padilla, contratado pela família Timerman para ajudar a promotoria.
A ditadura argentina durou de 1976 a 1983 e neste período mais de 30.000 pessoas desapareceram.
Von Wernich foi preso em 2003, depois da anulação das leis de anistia na Argentina.
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