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Confronto policial com manifestantes contrários ao regime no bairro de Los Mecedores, em Caracas, em 21 de janeiro de 2019 | FEDERICO PARRA/AFP
Confronto policial com manifestantes contrários ao regime no bairro de Los Mecedores, em Caracas, em 21 de janeiro de 2019| Foto: FEDERICO PARRA/AFP

Os protestos contra o ditador Nicolás Maduro, que começaram após a sublevação de um grupo de militares de baixa patente, continuaram na noite desta segunda-feira (21). De acordo com o Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais (OVCS) foram confirmados 30 protestos pequenos em diferentes regiões da capital Caracas. 

Segundo a imprensa local, há relatos de repressão por parte das forças de segurança do regime, sendo comum o uso de bombas de gás lacrimogêneo. Os manifestantes, em diversos pontos, fizeram barricadas para se proteger e bloquearam ruas para impedir acesso das forças de segurança. Também foram ouvidos “panelaços” pela cidade. 

Segundo o jornal La Patilla houve relatos não confirmados de roubos.

A mobilização começou no início da manhã de segunda-feira, ao norte de Caracas, em apoio a um grupo de oficiais de baixa patente da Guarda Nacional Bolivariana se rebelou contra a autoridade de Maduro no quartel de Cotiza. Os rebeldes foram presos pelo Exército antes das 8h (10h no horário de Brasília), mas os protestos continuaram na localidade.

De acordo com um comunicado oficial, 27 rebeldes haviam assaltado um comando localizado no bairro do Petare e de lá teriam levado armamentos. O texto diz também que os oficiais se renderam quando chegou a Cotiza uma patrulha do Exército chefiada pelo capitão Gerson Soto Martínez.

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Antes de serem presos, eles gravaram vídeos em que diziam desconhecer a autoridade do ditador Nicolás Maduro e pediram apoio da população civil. O líder da rebelião foi identificado como o sargento Valdrén Figueroa.

Repercussão

Por meio das redes sociais, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, disse que, sobre os oficiais rebeldes, cairá "todo o peso da lei".

Um dos líderes da oposição e ex-candidato a presidente, Henrique Capriles, do partido Primeiro Justiça, apoiou o levante de Cotiza e disse que se trata de um exemplo do descontentamento dentro das Forças Armadas do país.

Porém, fez um alerta. "Uma coisa é a cúpula, outra é a tropa. Ninguém nega que há um descontentamento e que a fome e a crise econômica também afetam os soldados e suas famílias, mas é preciso que se mobilizem também os da alta cúpula". Depois, voltou a dizer que "a situação do país é insustentável, todos os dias a crise econômica aumenta. O regime quer uma guerra? Isso nunca será uma solução".

Manifestante contra o governo segura um cartaz dizendo "Artigo 350. Abaixo a ditadura!" durante confrontos com policiais e tropas nos arredores de um posto de comando da Guarda Nacional em Cotiza, no norte de Caracas, em 21 de janeiro de 2019FEDERICO PARRA/AFP

Já o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, afirmou que não gostaria de ver "uma divisão das Forças Armadas, e sim que toda a família militar se junte a seu movimento".

Segundo o jornal Miami Herald, ex-generais do Exército, hoje exilados nos EUA, apoiam Guaidó. "Estamos num momento parecido ao de 2002" [quando um golpe de Estado derrubou Hugo Chávez do poder]", disse o general Herbert García Plaza, que hoje vive em Washington. "As Forças Armadas hoje não têm o desejo de ir contra a população, caso haja protestos muito numerosos", disse ao jornal americano.

Os protestos desta segunda-feira podem dar fôlego a uma grande mobilização contra Maduro, convocada para esta quarta-feira (23). Sob a liderança do deputado Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional (AN), a oposição recuperou o ânimo e, ao que parece até agora, está reconquistando a confiança da população. O evento desta quarta será um teste da capacidade do presidente da AN como líder do país e a força do engajamento ao evento guiará a oposição em seus próximos passos para a derrubada do regime.

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Decisão do TSJ

Também nesta segunda-feira, o presidente do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela, Juan José Mendoza, disse que as ações da Assembleia Nacional são nulas, desde que se encontra em desacato – ou seja, desde a presidência de Julio Borges (2017) até a atual, de Juan Guaidó – são nulas.

"A Assembleia Nacional não tem uma junta diretora válida, portanto está agindo fora da lei ao incitar a população a atos públicos. A nulidade de seus atos é absoluta."

Mendoza disse ainda que não se pode aplicar o artigo 350 da Constituição, como pede a Assembleia Nacional, que permite a desobediência civil em caso de o governante estar abusando de seu cargo e desrespeitando as leis do país.

O presidente Jair Bolsonaro falou sobre os desdobramentos da crise política na Venezuela nesta segunda-feira. Em Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial , ele disse a jornalistas que espera que o "governo [do ditador Nicolás Maduro] mude rapidamente".

*Colaboraram Maria Cristina Frias, Luciana Coelho e Lucas Neves, em Davos.

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