Curitiba O cardeal Cláudio Hummes, líder da maior arquidiocese católica do Brasil, a de São Paulo, foi indicado ontem pelo Papa Bento XVI para supervisionar a atividade dos padres no mundo todo, tarefa que ele deve assumir até o fim de novembro, no Vaticano. Ele sucederá ao cardeal colombiano Dario Castrillón Hoyos no posto de prefeito da Congregação para o Clero. O cargo, um dos mais importantes na hierarquia da Igreja, equivale ao de um ministro no sistema presidencialista de governo. Esta é a terceira vez que um brasileiro se torna prefeito de uma congregação dom Agnelo Rossi foi prefeito da Congregação Para a Evangelização dos Povos, de 1970 a 1984, e dom Lucas Moreira Neves comandou a Congregação para os Bispos, entre 1998 e 2000. Dom Cláudio, filho de alemães nascido no Rio Grande do Sul, em 1934, foi ordenado sacerdote em 1958 e sagrado bispo em 1975. Em 1998, assumiu a arquidiocese de São Paulo. Três anos depois foi feito cardeal pelo Papa João Paulo II. Por telefone, ele falou à Gazeta do Povo sobre os desafios que o esperam no Vaticano.
Gazeta do Povo Uma de suas funções será gerenciar os padres pelo mundo. O senhor já tem alguma prioridade de ação?
Dom Cláudio Hummes Na verdade, não posso fazer um projeto prévio. Quem faz as propostas é o Papa. Os prefeitos não fazem eles os projetos sozinhos, sobretudo eu, que estou começando. E, claro, que ele (Papa) também escuta a todos nós.
O senhor sempre defendeu o diálogo com outras religiões. Como isso se refletirá na nova missão?
A Igreja defende e promove o diálogo. Aqui em São Paulo temos promovido o diálogo entre as diversas igrejas, cristãs ou não. Também é necessário dialogar com a ciência, a cultura e a sociedade em geral. A Igreja está muito empenhada nisso.
Qual o maior desafio para a Igreja neste século?
Creio que é a evangelização, a tarefa de levar o Evangelho de forma viva às pessoas. Cristo deve ser para toda pessoa uma boa notícia. Outro desafio é a questão da pobreza. Essa solidariedade com os pobres deve continuar; temos de contribuir para que se vença a pobreza, a fome e a violência no mundo.
Como o senhor vai comandar o Departamento Catequético, a evangelização estará diretamente ligada ao seu trabalho, não?
Sim, tem tudo a ver com isso. Os padres são agentes fundamentais porque estão na base, trabalhando com o povo. São fundamentais para uma Igreja mais evangelizadora, missionária e solidária.
Qual é sua posição em relação à secularização, muito defendida na Europa hoje?
E aqui no Brasil também. A secularização está ligada à cultura pós-moderna. É necessário combater os excessos. O secularismo, levado ao extremo, simplesmente nega Deus no mundo. Obviamente, não podemos respeitar isso. Um exemplo do efeito negativo é o relativismo generalizado. Lutamos para que a humanidade continue a buscar a verdade. E, repito, o clero tem tudo a ver com tudo isso, porque está junto do povo.
Como o senhor vê sua escolha para o cargo?
Não sei quais foram os critérios, mas de toda forma, considero uma atenção muito carinhosa do Papa para com o povo brasileiro.
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