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Religião

Caricaturas de Maomé aumentam tensão gerada por filme anti-islâmico

Woody Allen: cinismo que não é cinismo. | Jean Paul Pelisser / Reuters
Woody Allen: cinismo que não é cinismo. (Foto: Jean Paul Pelisser / Reuters)

A França e os Estados Unidos reforçaram nesta quarta-feira (19) a segurança de embaixadas e escolas em meio a temores de que as caricaturas de Maomé publicadas em uma revista francesa aticem a violência que agita o mundo muçulmano por causa de um filme ofensivo ao Islã.

Mais de 30 pessoas morreram desde a semana passada nos ataques e manifestações desencadeados pela difusão na internet de trechos do filme "A inocência dos muçulmanos", incluindo 12 mortos em um atentado suicida praticado na terça-feira no Afeganistão por uma mulher.

A França tomou "medidas de segurança especiais" para proteger suas embaixadas, depois da publicação da caricatura do profeta dos muçulmanos na revista Charlie Hebdo, anunciou o ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius.

Na sexta-feira - dia de oração para os muçulmanos, com frequência seguida de protestos - a França fechará suas sedes diplomáticas, instituições culturais e escolas em cerca de vinte países.

Na Tunísia, os colégios permanecerão fechados desta quarta-feira até a próxima segunda.

O partido islamita tunisiano Ennahda argumentou que os muçulmanos têm o "direito de protestar" pacificamente, depois da publicação das caricaturas.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, também anunciou medidas especiais para proteger as embaixadas dos Estados Unidos, principal alvo da ira provocada pela difusão do filme sobre Maomé considerado ofensivo, produzido nesse país.

No Paquistão, o governo decretou feriado nacional em homenagem ao profeta Maomé na sexta-feira.

No leste do Afeganistão, cerca de mil pessoas bloquearam a estrada para Cabul gritando "Morte aos Estados Unidos" e "Morte aos inimigos do Islã".

A revista satírica francesa Charlie Hebdo, com seu habitual estilo provocador, entrou de cabeça na polêmica, zombando tanto do filme quanto da intolerância religiosa, com caricaturas que, em dois casos, mostram o Maomé nu.

A primeira edição teve seus exemplares esgotados e, à tarde, a revista anunciou uma segunda tiragem.

A polícia reforçou a segurança nos arredores da redação da Charlie Hebdo, em Paris, que já teve escritórios incendiados em novembro de 2011, logo após a publicação de um número que zombava da sharia, a lei islâmica.

Caricaturas que jogam lenha na fogueira

A Al-Azhar, principal autoridade do islã sunita, com sede no Cairo, condenou a publicação dessas caricaturas.

"A Al-Azhar e todos os muçulmanos rejeitaram categoricamente a insistência de uma revista francesa em publicar caricaturas que atentam contra o Islã e seu profeta", disse o xeque da Al-Azhar, Ahmed al Tayeb.

O jornal do Vaticano, L'Osservatore romano, afirmou que a publicação dessas caricaturas é uma "iniciativa discutível" que "joga lenha na fogueira".

"No momento em que tentamos, a duras penas, reduzir a tensão no mundo islâmico em razão do filme 'A inocência dos muçulmanos', corremos o risco, hoje, de abrir de uma nova frente de protesto", indicou o jornal.

O governo socialista francês precisa agora equilibrar os princípios republicanos da liberdade de expressão com os imperativos de sua diplomacia e as suscetibilidades de sua comunidade muçulmana, a maior da Europa, de cerca de cinco milhões de fieis.

"Na França, o princípio é a liberdade de expressão e não é preciso miná-lo, mas, neste contexto, levando em conta esse filme estúpido, esse vídeo absurdo que foi divulgado, há uma grande comoção em muitos países muçulmanos", disse Laurent Fabius.

"É pertinente e inteligente colocar mais lenha na fogueira? A resposta é não", acrescentou o ministro, pedindo equilíbrio.

O primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault lembrou que a França é "um país onde as leis são respeitadas" e que se alguém considera que houve infrações à lei, pode apresentar uma denúncia.

O conselho foi ouvido de imediato: à tarde, uma fonte judicial revelou que a Charlie Hebdo tinha sido denunciada no tribunal de Paris por incitação ao ódio.

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