O centrista Carlos Mesa é o único candidato que tem alguma chance de derrotar o presidente Evo Morales nas eleições presidenciais da Bolívia, que terão o primeiro turno no domingo (20).
O jornalista, escritor, historiador e documentarista não é uma cara nova na política boliviana; Mesa foi presidente entre 2003 e 2005, um dos períodos mais instáveis do país.
Essas são as eleições mais difíceis já enfrentadas por Evo Morales, que está no poder há quase 14 anos. Mesa teve altos e baixos durante a campanha, mas na reta final as pesquisas indicam que ele tem chances de levar a disputa presidencial para o segundo turno.
Mesa nasceu em La Paz, em 1953, filho de um casal de arquitetos. Um dos mais prestigiados jornalistas da Bolívia, em 2002 Mesa se candidatou a vice-presidente ao lado do empresário liberal Gonzalo Sánchez de Lozada, do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), que foi eleito para o seu segundo mandato.
Em 2003 teve início a chamada Guerra do Gás na Bolívia, quando cidadãos protestaram contra a exportação do gás natural a preços baixos para Estados Unidos e México. Os protestos se tornaram violentos e houve repressão do governo - mais de 60 pessoas morreram nos enfrentamentos com o exército. Em meio ao clima hostil, Lozada renunciou.
Embora Mesa tenha anunciado o rompimento de relações com o presidente, permaneceu no cargo de vice e tomou posse como presidente quando Lozada apresentou sua renúncia e fugiu para os Estados Unidos.
O seu mandato durou 19 meses. Intensos protestos liderados por Evo Morales, pressão para nacionalizar as reservas de gás e pouco apoio do congresso - nem mesmo da bancada de Lozada, que o considerava um traidor - o levaram a renunciar em 2005.
A sua atual campanha não foi livre de denúncias. O oficialismo e setores da oposição o acusam de supostos ganhos ilícitos e de corrupção. Uma denúncia originada do círculo do ex-presidente Lozada acusa Mesa de ter recebido cerca de US$ 1 milhão para o seu ex-canal de televisão em troca de aceitar a candidatura à vice-presidência em 2002. Mesa não confirma e nem nega à denúncia: "disse muitas vezes e repito: não vamos responder à guerra suja", afirmou em entrevista ao Infobae nesta semana.
O governo de Evo Morales descreve Mesa como o "último presidente neoliberal na história da Bolívia" e frequentemente o responsabiliza pelas dificuldades econômicas enfrentadas pelo país durante o seu mandato.
Muitos bolivianos se questionam também sobre a capacidade de Mesa de se manter no poder caso vença as eleições, após ter renunciado no seu primeiro mandato.
Mesa conta com o voto útil para impedir a continuidade do governo de Morales. Ao encerrar sua campanha em La Paz na terça-feira, pediu apoio à oposição de esquerda e de direita nas eleições de domingo, convocando o país a decidir "entre o caminho autoritário à ditadura ou o caminho da construção democrática".