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Negociação

Carta a Lula não era "instrução" sobre o Irã, dizem EUA

Funcionários graduados do governo americano disseram nesta sexta-feira (28), ao Jornal Nacional, que a carta enviada pelo presidente Barack Obama ao presidente Lula antes do acordo negociado em Teerã por Brasil e Turquia não se tratava de uma "instrução ao governo brasileiro".

Segundo eles, a carta apenas explicava, de modo geral, o posicionamento dos Estados Unidos em relação ao Irã, mas não detalhava uma série de preocupações do governo americano em relação ao programa nuclear iraniano. As autoridades americanas afirmaram que, em nenhum momento, autorizaram o Brasil a negociar em nome dos Estados Unidos.

Entre as preocupações que não foram muito detalhadas na carta estaria o fato de o Irã ter aumentado bastante o seu estoque de urânio desde setembro do ano passado, quando o país se recusou a assinar o primeiro acordo proposto pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que previa o envio de material para a França ou a Rússia, onde seria enriquecido.

Outra preocupação não mencionada especificamente no documento diz respeito ao fato de o Irã ter anunciado ao mundo, em fevereiro, que o país estava enriquecendo urânio a 20%, o que, segundo especialistas, deixa o país mais perto da tecnologia necessária para a fabricação de armas nucleares.

Os funcionários do alto escalão do governo americano também mencionaram a revelação, feita no ano passado, de que o Irã estava construindo uma usina nuclear secreta, embaixo de uma montanha, ao lado de uma instalação militar.

Segundo eles, todas essas questões "preocupantes" foram claramente informadas ao governo brasileiro em diversas ocasiões, inclusive numa reunião com a embaixadora do Brasil nas Nações Unidas.

Cópias de relatórios

Um dos funcionários chegou a afirmar que o Brasil e a Turquia receberam cópias de relatórios do serviço de inteligência americano sobre as pretensões nucleares do Irã e que, portanto, a carta enviada ao presidente Lula era apenas parte de uma série de contatos diretos entre representantes brasileiros e americanos.

O governo americano tem declarado que o Irã está desrespeitando três determinações das Nações Unidas, que proíbem o país de continuar enriquecendo urânio em suas usinas.

Por conta disso, os iranianos teriam conseguido dobrar o seu estoque de urânio. Os Estados Unidos afirmam que, hoje, mesmo que o Irã mande 1.200 kg de urânio para serem enriquecidos na Turquia, como prevê o acordo negociado pelo Brasil, o governo iraniano ainda teria material bruto para fabricar, pelo menos, uma bomba atômica.

O governo iraniano tem afirmado, repetidas vezes, que seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos.

Os funcionários do governo americano disseram que reconhecem o que chamaram de "esforços sinceros" do Brasil e da Turquia na área diplomática, mas declararam que o Irã só assinou o acordo para ganhar tempo e evitar novas sanções, que já estão sendo discutidas no conselho de segurança das Nações Unidas. A proposta foi apresentada pelos Estados Unidos, com o apoio da França, do Reino Unido, da Rússia, da China e da Alemanha.

Ao serem questionadas se defendem ou não o acordo de Teerã, as autoridades americanas responderam que acreditam no que chamaram de "diplomacia de duas vias". Segundo eles, o Irã pode, sim, mandar urânio para ser enriquecido na Turquia, como prevê o acordo negociado pelo Brasil, mas também deve parar, imediatamente, de enriquecer urânio em seu território, como querem os Estados Unidos e outras potências ocidentais.

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