Teerã deve comunicar agência das Nações Unidas na segunda
Folhapress
O Irã vai entregar na segunda-feira à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) uma carta oficial detalhando os termos do acordo de intercâmbio de material nuclear por combustível, mediado nesta semana por Brasil e Turquia. A informação é da agência de notícias estatal Irna.
O anúncio dá prosseguimento aos trâmites previstos em Teerã quando os três países se reuniram, apesar de as potências Ocidentais como os EUA, França e Reino Unido terem deixado claro que darão continuidade ao projeto de uma nova rodada de sanções no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
Ontem, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que o Irã deve cumprir seu compromisso de registrar o acordo de troca de urânio por combustível nuclear, sem novas exigências, até a próxima segunda-feira o último dia previsto no acerto. Uma eventual resistência de Teerã em entregar essa carta seria um "contrassenso", ressaltou.
Concentrado nos últimos dias no esforço de evitar um recuo do Irã, em função da ameaça de imposição de novas sanções pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, o chanceler telefonou para autoridades de nove países envolvidos nessa decisão. Seu objetivo é evitar a aprovação das medidas.
"Tenho falado com praticamente todos os países, até para entenderem nossa posição. Espero que não cheguemos a uma votação", disse.
Trechos obtidos pela agência Reuters de carta enviada semanas atrás pelo presidente dos EUA, Barack Obama, a seu colega Luiz Inácio Lula da Silva confirmam a versão divulgada nos últimos dias pelo governo brasileiro de que o acordo Brasil-Irã-Turquia atendia a demandas da Casa Branca.
O acordo firmado na segunda em Teerã prevê que o Irã enviará, no prazo de um mês, 1.200 quilos de seu urânio pouco enriquecido à Turquia.
Em até um ano, o país persa receberia, em troca, 120 kg de urânio enriquecido a 20%, índice adequado para uso médico, mas não para fins militares.
O trato é reedição de acordo semelhante proposto em outubro passado pela AIEA (agência atômica da ONU), que na ocasião não foi aceito pelo Irã porque o país se negava a enviar urânio para fora do seu território e exigia que a troca fosse simultânea.
Brasil e Turquia conseguiram fazer o país persa desistir de ambas condições.
"De nosso ponto de vista, uma decisão do Irã de enviar 1.200 quilos de urânio de baixo enriquecimento para fora do país geraria confiança e diminuiria as tensões regionais por meio da redução do estoque iraniano, escreveu Obama na carta, segundo a Reuters. "O Irã continua a rejeitar a proposta da AIEA e insiste em reter seu urânio de baixo enriquecimento em seu próprio território até a entrega do combustível nuclear, continua.
O presidente americano afirma ainda que, "para iniciar um processo diplomático construtivo, o Irã precisa transmitir à AIEA um compromisso construtivo de engajamento, através dos canais oficiais, algo que não foi feito até o momento.
Perplexo
A reação americana deixou Lula "perplexo, segundo relato de um interlocutor próximo ao presidente. O mesmo interlocutor afirmou que Lula está disposto a cobrar de forma mais dura os EUA se não cederem na intenção de impor novas sanções ao país persa.
Na quinta-feira, após manter o silêncio por alguns dias enquanto esperava que as reações ao acordo com Teerã "amadurecessem, o presidente brasileiro já subiu o tom contra os EUA ao afirmar que o entendimento desagradou a "gente que não sabe fazer política se não tiver o inimigo.
Lula recebeu uma ligação do presidente do Líbano, Michel Suleiman, que o cumprimentou pelo acordo firmado com Teerã.
O Líbano, onde a milícia xiita Hizbollah, ligada ao Irã, participa do governo, controla hoje a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU.
A expectativa é que a proposta de sanções ao Irã seja votada no início do próximo mês.