2,28
É o número de carros por domicílio nos Estados Unidos.
Suor frio, temor de deportação e do fim do sonho americano. Para 11,5 milhões de imigrantes que vivem em situação irregular nos EUA, o gesto do guarda de trânsito pedindo os documentos tem o peso de uma sentença e o risco de confisco daquela que é a prova de identidade e a permissão para viver no país do automóvel: a carteira de motorista. Atualmente, apenas dois estados Novo México e Washington concedem o documento a imigrantes sem visto de permanência. Na maré oposta, sobe sem trégua o número de estados que aprovam leis autorizando a polícia a exigir provas do status legal: Arizona, Alabama, Indiana, Geórgia, Carolina do Sul, Utah.
O brasileiro Anderson Gomes de Oliveira vai ganhar no dia 15 de agosto, quando completará 34 anos, um presente de grego: a expiração de sua carteira de motorista, expedida no longínquo estado de Washington, na Costa Oeste. Morador de Nova Jersey há 11 anos, Anderson passou por um susto na semana passada: levou uma multa de US$ 200 e foi advertido de que precisa transferir sua licença para o estado onde reside. Se for pego de novo em seis meses, perde a habilitação e a capacidade de continuar tocando sua empresa de construção.
"Você fica pedindo a Deus para eles não te pararem. A carteira de motorista é minha vida aqui, dependo dela para tudo", disse Oliveira.
Nos EUA, o país com a maior frota de carros do mundo uma média de 2,28 automóveis por domicílio , dirigir é uma necessidade para milhões de pessoas que não encontram transporte coletivo a contento. Além disso, não existe uma carteira de identidade como a do Brasil e de muitos outros países. No cotidiano, a carteira de motorista é o documento que se usa para tudo, desde embarcar em um voo doméstico até abrir uma conta ou comprovar identidade para um pagamento.
"A carteira de motorista é a segunda coisa mais desejada pelos imigrantes, atrás apenas da legalização de seu status migratório. É também uma ferramenta de integração na sociedade, especialmente nos EUA, onde historicamente ela é o documento de identidade mais usado", afirma Ben Winograd, advogado do American Immigration Council, uma ONG que promove os direitos de imigrantes há 25 anos.
Necessidade
O mexicano Roberto Sánchez vive no Novo México desde 1997. Sánchez, hoje com 38 anos, tornou-se dependente do carro. Morador de Santa Fé, onde o intervalo entre dois ônibus pode levar uma hora, ele leva as ferramentas de operário da construção civil no carro e se indigna ao ver o cerco apertando até nesse estado, um dos dois últimos a conceder carteira de motorista a um imigrante indocumentado, como ele. Segundo Sánchez, a cada renovação, exigem-se mais papéis e mais visitas ao equivalente local do Detran.
"Querem nos tornar mais vulneráveis para nos explorar, nos pisotear. Eles precisam da nossa mão de obra", disse Sánchez.
Segundo dados do Pew Hispanic Center, 80% dos imigrantes ilegais são de origem hispânica. Estima-se que 4,5 milhões sejam motoristas, boa parte deles sem carteira ou com habilitação vencida.
Deixe sua opinião