A Guiné-Bissau pode "explodir" nos próximos meses se a comunidade internacional não agir com firmeza contra a infiltração de narcotraficantes latino-americanos nessa miserável ex-colônia portuguesa da África Ocidental, disse uma autoridade das Nações Unidas nesta terça-feira.
Quadrilhas brasileiras e colombianas vêm usando o país como escala para a cocaína levada aos mercados europeus, um negócio que movimenta centenas de milhões de dólares por ano.
"A Guiné-Bissau vai explodir se não fizermos nada entre agora e o fim do ano", disse Amado Philip de Andrés, sub-representante regional do Escritório da ONU para Drogas e Criminalidade na África Ocidental.
"Vai explodir e terá um efeito dominó em outros lugares. Não é um problema da África Ocidental, é um problema da Europa e é um problema da América Latina", disse De Andrés a jornalistas que acompanham uma reunião sobre o combate ao terrorismo no vizinho Senegal.
Os cartéis colombianos já controlam algumas das ilhas isoladas na fragmentada costa da Guiné-Bissau. Se eles continuarem agindo, outros grupos se verão atraídos para lá, criando um narco-Estado, segundo ele.
"Como pode explodir? Guerra civil, desestabilização regional contra países que ainda estão se recuperando após conflitos, como Libéria e Serra Leoa, ou que tal se esses grupos financiarem um conflito no norte da Costa do Marfim? É isso que eles estão procurando", afirmou.
Diante de quadrilhas ricas e bem-organizadas, a polícia da Guiné Bissau só têm um veículo em funcionamento, armas enferrujadas e nenhuma prisão para manter suspeitos.
De Andrés disse que seu departamento precisa urgentemente de 300 mil dólares para nomear um representante permanente em Guiné Bissau, encarregado de preparar um plano nacional antidrogas, e para patrocinar uma presença rotativa de agentes de países desenvolvidos.
De acordo com De Andrés, pouco menos de um quinto da cocaína apreendida por via aérea na Europa no ano passado vinha da África Ocidental.
Um programa para o combate aos cartéis foi orçado em 15 milhões de dólares, valor até agora não correspondido por doadores internacionais. O programa ajudaria Bissau a construir sua primeira prisão e seu primeiro laboratório forense.
"Vamos nos envolver agora, pois do contrário vai explodir, e recuperar o país vai nos custar não 15 milhões de dólares, mas 150 ou 200 milhões de dólares. Não queremos fazer o papel de forças de paz."
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