Campesinos participam de marcha em Assunção pedindo reforma agrária no dia da greve geral que parou parte do país| Foto: Jorge Adorno/Reuters

Lojas fecham e multidão vai às ruas

A meca dos importados parou ontem diante das manifestações que tomaram conta das ruas. Ciudad del Este, fronteira com Foz do Iguaçu, amanheceu com a maioria das lojas fechada, aulas suspensas e piquetes (foto).

O trânsito na Ponte da Amizade, que liga Brasil e Paraguai, ficou interrompido por cerca de três horas e foi liberado no início da tarde. Toda movimentação foi acompanhada pela polícia, mas não houve confronto.

Uma das categorias mais atuantes no movimento, os taxistas ajudaram a interromper a circulação de veículos. Dirigente da Federação dos Trabalhadores Taxistas de Ciudad del Este (Fetace), Enrique Rolon diz que a categoria reivindica crédito para trocar veículos e benefícios sociais como qualquer outro trabalhador que tem carteira assinada.

Na região de Ciudad del Este, a greve ganhou adesão de sindicalistas, caminhoneiros e produtores ­rurais.

CARREGANDO :)

Reivindicações

O que querem os grevistas paraguaios:

• Revogação da lei que prevê a privatização e concessão de serviços públicos, inclusive para empresas estrangeiras;

• Aumento salarial de 25% (o governo oferece 10%);

• Redução no preço da passagem do transporte público;

• Controle no preço da cesta básica;

• Execução de um plano de reforma agrária.

80% dos trabalhadores aderiram à greve, de acordo com sindicatos. Piquetes e bloqueios de ruas e estradas foram registrados em 35 locais do Paraguai. Cerca de 6 mil campesinos participaram da paralisação.

Publicidade

Há pouco mais de sete meses no poder, o presidente Hora­cio Cartes enfrentou ontem a maior greve geral registrada no Paraguai desde 1994. Estreante na política, Cartes – que é sócio-majoritário de 25 empresas, incluindo a Tabacalera Del Este (Tabesa), unidade que fornece cigarro contrabandeado para o Brasil – deparou-se com uma população contrariada e disposta e enfrentar decisões governamentais consideradas arbitrárias.

Um dos principais alvo de críticas é a chamada Lei de Aliança Público-Privada (APP), aprovada pelo Senado em outubro do ano passado. Os manifestantes pedem a revogação da lei que prevê a privatização e concessão de serviços públicos, inclusive para empresas estrangeiras. Também dá cartas brancas para o executivo tomar decisões sem consultar o poder legislativo. Por outro lado, o governo considera a lei uma forma de desenvolver o país e melhorar a prestação de serviços em aeroportos, rodovias e energia elétrica.

Outras reivindicações referem-se ao aumento salarial de 25% (o governo oferece 10%), redução no preço da passagem do transporte público, controle no preço da cesta básica e a execução de um plano de reforma agrária.

A greve teve adesão de diversas classes e agremiações de trabalhadores na capital e interior. Uniu produtores rurais, estudantes, agricultores sem-terra e taxistas. A participação dos agricultores foi maciça porque a paralisação coincidiu com a 23ª Marcha do Campesinato Pobre.

Em Assunção, a Praça de Armas, situada em frente ao congresso, foi o principal ponto de concentração dos manifestantes. Cerca de 6 mil campesinos seguiram em marcha para a capital. Em pelo menos 35 pontos do país foram registrados piquetes e bloqueios de ruas e estradas, segundo líderes campesinos. De acordo com centrais sindicais, a greve teve adesão de 80% dos trabalhadores.

Publicidade

Vice-presidente vai se reunir hoje com líderes dos sindicatos

A paralisação, iniciada na madrugada de ontem, foi encerrada por volta das 15h de Brasília após o governo ter sinalizado disposição de negociar com os manifestantes.

O vice-presidente Juan Afara, encarregado de manter contato com as centrais sindicais, convocou uma reunião com os líderes do movimento para hoje, dia 27. Campesinos e organizações sindicais consideraram a paralisação exitosa.

Em entrevista ao jornal paraguaio Ultima Hora, o sociólogo Ramón Fogel, da Universidade Nacional de Assunção (UNA), compara Cartes ao ex-presidente Juan Carlos Wasmosy, ou seja, confunde a administração estatal com a empresarial. Para ele, Cartes deseja instalar no país um modelo neoliberal com 20 anos de atraso. Wasmosy governou o Paraguai entre 1993-1998 e enfrentou a principal greve no país.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o analista José Carlos Rodriguez diz que a greve não teve a mesma força daquela realizada em 1994, mas foi importante para colocar em pauta temas sociais e a Lei de Aliança Público-Privada que concede poder excessivo ao presidente. "A greve traz algo que não está sendo considerado, que é a política social", afirma.

Publicidade