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Convidado pelo presidente uruguaio, José Mujica, a participar da próxima reunião da cúpula do Mercosul, o mandatário Horacio Cartes demonstrou interesse em voltar para o bloco sul-americano | Jorge Adorno/Reuters
Convidado pelo presidente uruguaio, José Mujica, a participar da próxima reunião da cúpula do Mercosul, o mandatário Horacio Cartes demonstrou interesse em voltar para o bloco sul-americano| Foto: Jorge Adorno/Reuters

Vantagem

Mercosul garantiu ampliação do sistema de distribuição de energia

Um dos recentes benefícios que o Paraguai conquistou junto ao bloco sul-americano veio do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem). Por meio do fundo, o país obteve US$ 15,8 milhões para ampliar a subestação da Itaipu no município de Hernandárias, vizinho a Ciudad del Este, fronteira com Foz do Iguaçu. A obra, que deve ser inaugurada em setembro deste ano, integra o sistema de transmissão de 500 kv, que levará a energia de Itaipu à subestação de Villa Hayes, na grande Assunção.

A linha de transmissão, na qual estão sendo injetados US$ 165 milhões, tem 347 quilômetros e 759 torres, 636 já erguidas. Outros US$ 105 milhões foram investidos na construção da subestação.

Com mais oferta de energia, a expectativa do Paraguai é acelerar o processo de industrialização que tem atraído inúmeros investidores brasileiros. Hoje, 80% da energia elétrica consumida pelo Paraguai é residencial. Somente 20% está destinado ao setor produtivo, pela falta de investimentos anteriores e de um plano de industrialização.

O Paraguai recebe ao ano US$ 340 milhões pela venda da energia elétrica da Itaipu ao Brasil. Em 2012, a Itaipu forneceu 17,3% de toda a energia consumida pelo Brasil e 72,5% pelo Paraguai.

O país ainda recebe outros US$ 150 milhões dos cofres argentinos pela venda de energia da hidrelétrica Yacyretá, no município de Ayolas, fronteira com Corrientes, Argentina.

Bloco

Suspensão só gerou prejuízo político e mexeu com influência do Brasil

Diretor do Centro de Análises e Difusão da Economia Paraguaia (Cadepe), o analista econômico Fernando Masi diz que a suspensão do Mercosul não gerou reveses econômicos ao Paraguai, apenas político. Em 2012, as exportações paraguaias para o Mercosul cresceram 30% em relação a 2011, principalmente em razão das transações comerciais com o Brasil.

Porém, ele diz que o país deve voltar a ter peso político no bloco. "O Mercosul é a projeção do Paraguai para o mundo. O país precisa ter sua voz ", afirma.

Já o diretor-presidente do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), Wagner Enis Weber, vai além e diz que o maior prejudicado com o afastamento temporário do Paraguai no Mercosul foi o Brasil. Os paraguaios se aproximam dos Estados Unidos, Canadá e do chamado Bloco do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México), países, segundo Weber, com economias muito abertas e dinâmicas. "Com isso, o Brasil perde influência política e econômica na região. E perde o controle de um país estrategicamente importante para nosso comércio e nossas empresas."

  • Dilma: relações bilaterais
  • Mujica: cúpula do Mercosul

A relação difícil com a Venezuela e a reintegração ao Mercosul despontam como impasses na agenda do presidente eleito do Paraguai, Horacio Cartes. Suspenso do bloco sul-americano após o impeachment do ex-bispo Fernando Lugo, o país conta com a recuperação da força política para voltar a ter voz no cenário latino-americano.

Cartes já manifestou interesse em levar o Paraguai a retomar a cadeira no bloco comercial sul-americano e ontem foi convidado pelo presidente do Uruguai, José Mujica, para participar da próxima Cúpula do Mercosul que será realizada em Montevidéu, em junho.

A volta do Paraguai ao Mercosul e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), organização da qual o país também foi afastado temporariamente, estava condicionada a uma eleição transparente e democrática e tende a se concretizar caso um entrave, chamado Venezuela, não atrapalhe.

Em outubro do ano passado, já sob o comando do atual presidente Federico Franco, o parlamento paraguaio reprovou o ingresso da Venezuela no bloco. Por isso, pode haver resistência de alguns países, inclusive o Brasil, na read­missão do Paraguai, apesar das declarações favoráveis de Mujica e da presidente argentina Cristina Kirchner.

Um novo pedido para o ingresso da Venezuela, agora dirigida por Nicolás Maduro, precisa ser votado pelo congresso. Se depender de Cartes, que durante a campanha declarou apoio a participação da Venezuela no Mercosul, e da disposição de Maduro, que já o cumprimentou pelas eleições, não haverá problemas.

No entanto, o discurso verbal de Cartes não vai resolver. Ele terá de lidar com o fato de o mandatário venezuelano, Nicolás Maduro, não ter boa receptividade no país. Quando era chanceler venezuelano, Maduro foi declarado persona non grata pelo parlamento paraguaio porque teria, nos bastidores, incitado militares à sair na rua para defender o então presidente Fernando Lugo, que passa por um processo de cassação.

Para o historiador Jorge Rubiani, o conflito entre Paraguai e a Venezuela vai continuar. E a rusga passa pela figura do presidente eleito Nicolás Maduro. "Há governos que vão aceitar Maduro, outros não", diz.

Paraguai terá de aceitar a entrada da Venezuela

Folhapress

A presidente Dilma Rousseff telefonou para cumprimentar o novo presidente do Paraguai, o colorado Horacio Cartes, no início da tarde de ontem. A ligação foi feita às 15 horas e durou cinco minutos. Segundo nota divulgada pela Presidência, Dilma "desejou um governo bem-sucedido e ressaltou a disposição para recompor as relações bilaterais e do Paraguai com o Mercosul".

A avaliação de integrantes do governo brasileiro é de que o Paraguai só deve retornar ao Mercosul após o Congresso de lá aprovar a adesão da Venezuela ao bloco, e depois de uma análise por parte dos países que integram o grupo econômico.

O Paraguai foi suspenso do Mercosul após a controversa deposição do então presidente Fernando Lugo, em junho passado. Na ocasião, Brasil, Argentina e Uruguai decidiram pela entrada da Venezuela à revelia do Paraguai, o único país que resistia à medida.

Segundo a reportagem apurou, observadores brasileiros baseados no país vizinho estão otimistas quanto as chances de readmissão, mas não preveem o retorno antes de agosto, mês da posse de Horacio Cartes.

Primeiro, afirmam interlocutores da presidente Dilma, é preciso saber o resultado da eleição do Senado para então avaliar se haverá maioria simpática à votação.

Para o Brasil, o Partido Colorado deve usar a morte de Hugo Chávez como pretexto para quebrar resistências no Congresso e encaminhar a proposta de adesão do país hoje governado por Nicolás Maduro. Esperam, ainda, que o próprio Horacio Cartes lidere uma ação interna para viabilizar a proposta.

Reconhecimento

O Brasil foi o último dos três países-fundadores do Mercosul a reconhecer oficialmente o novo presidente do Paraguai. Em seu Twitter, a presidente argentina, Cristina Kirchner, felicitou na noite de domingo o colorado e disse "esperá-lo no Mercosul".

"Seu lugar está ali no Mercosul junto a todos nós, como sempre", disse Cristina. "De novo estamos completos na América do Sul. É preciso."

Ela disse ter telefonado para o novo presidente paraguaio na noite de domingo. "Do outro lado da linha, escuto a voz de Horacio Cartes saudando-me com muita alegria", afirmou.

O presidente uruguaio, José Mujica, também telefonou para o vizinho. Segundo um comunicado da Presidência, Mujica convidou Cartes para a próxima cúpula do Mercosul, que será em junho, em Montevidéu. Disse ainda que pretende estar na posse do colorado.

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