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Ao acompanhar com espanto a crise desencadeada pelas charges de Maomé, um cartunista israelense de Tel-Aviv resolveu dar uma resposta que ''precisa ser a certa''. Amitai Sandy, um judeu de 29 anos, lançou um concurso de charges anti-semitas, no site www.boomka.org. Para o artista, os judeus não podem jamais perder a capacidade de rir de si mesmos.

De Israel, Sandy explicou por telefone ao GLOBO ONLINE o que o levou a criar o concurso, que estará aberto a artistas do mundo todo até o dia 25 de março:

- Vi a reação do jornal iraniano que lançou o concurso de charges e achei que o problema não era tão grande assim, já que os jornais no Irã costumam publicar caricaturas anti-semitas. Resolvi lançar nosso próprio concurso para mostrar que não temos medo de fazer piadas sobre nós mesmos.

Ele afirma que não recear represálias:

- Os anti-semitas sempre vão encontrar novas maneiras para justificar seu ódio. Eles não precisam das minhas charges. Não vou parar por causa disso.

O cartunista conta que já recebeu dez trabalhos desde o lançamento do concurso, na terça-feira, e espera ver charges com idéias novas e originais. Sandy garante que não vai haver censura, defendendo que nenhum assunto deva ser tabu, muito menos o Holocausto.

- Não acho que o Holocausto deva ser um assunto sagrado, no qual ninguém pode tocar. Não aconteceu em outro planeta. Foi um ato de humanos contra humanos. E, justamente pelo risco de acontecer de novo, acho que devemos falar sobre isso. Inclusive os sobreviventes do Holocausto fizeram as melhores charges sobre o assunto. A maioria ficou apenas na esfera privada, não é um costume publicá-las - comenta ele.

Para o artista, o famoso senso de humor autodepreciativo é uma qualidade do povo judeu. E o humor, acima de tudo, uma arma para combater a intolerância e os valores cristalizados pelas religiões.

- Eu acredito que o humor é uma das melhores formas de questionar os valores. Uma boa educação é a melhor maneira de se duvidar de uma crença - diz.

O site do concurso já recebeu várias respostas positivas de judeus de todo o mundo. Sandy conta que muitos disseram que esta é a melhor maneira de o povo judeu reagir à polêmica sobre as charges de Maomé: - Nós reagimos rindo de nós mesmos, não incendiamos embaixadas, não matamos pessoas... As pessoas me escreveram dizendo que estão orgulhosas de serem judeus, pela primeira vez em muito tempo. E alguns foram contrários, a maioria deles afirmando que entendem a idéia do concurso, mas que temem a reação, que pode ser considerada propaganda anti-semita.

Sandy diz que vai levar à frente sua idéia. Para ele, a intolerância é comum a quase todas as culturas, mas é ainda mais rígida quando se trata de uma questão fé:

- O problema é que é muito mais difícil mudar um valor quando ele se torna sagrado. Por exemplo, há algum tempo as mulheres não tinham o direito de votar e agora elas podem. O valor mudou. Já as visões religiosas são mais difíceis de mudar.

Na visão dele, as charges têm ainda uma função política, de diálogo e questionamento.

- O humor é uma reação à política, é inspirado por ela. Mas acho que o contrário também é verdade, o humor questiona a política e, portanto, ajuda o processo político - afirma.

Influenciado inicialmente por clássicos como Batman e Asterix, Sandy se formou na Academia Betzalel de Artes em Jerusalem. Ele integra o grupo Dimona Comix, formado por outros quatro artistas israelenses.

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