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Casa de mafioso em NY tem vista para Manhattan, paredes grossas e abatedouro

Vista de uma das salas da mansão que pertenceu a Albert Anastasia, líder de máfia em Nova York nos anos 1950 | Kirsten Luce/NYT
Vista de uma das salas da mansão que pertenceu a Albert Anastasia, líder de máfia em Nova York nos anos 1950 (Foto: Kirsten Luce/NYT)

O sangue da máfia manchou muitos cantos da metrópole de Nova York. Five Points. As docas de Red Hook. As Meadowlands. O Harlem. O litoral sul de Staten Island.

Embora esse sossegado subúrbio de North Jersey pareça uma capital improvável no mapa das gangues, em meados do século 1920 este foi o lar de alguns dos maiores gângsteres do mundo: Joe Adonis, Longie Zwillman, Willie Moretti, e o mais famoso e temido de todos, o chefe da Murder Inc., Albert Anastasia.

Para todos que querem viver como um líder da máfia — e não têm medo de alguns fantasmas — a Guernsey’s vai leiloar a velha casa de Anastasia no dia 8 de dezembro, com um lance mínimo de US$ 5,5 milhões.

O preço pode parecer uma pechincha agora, com novas mansões surgindo em todo o canto. Bem ao lado, uma casa de sete quartos e 1.254 metros quadrados construída em 2007 foi vendida em junho deste ano por US$ 18,9 milhões.

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Mas quando August Kleinzahler era criança nos anos 1950, o bairro de Palisades, em Fort Lee, era um dos lugares mais modestos e idílicos que se poderia imaginar: casas graciosas ao estilo Tudor e georgiano, com vistas incríveis de Manhattan.

A casa de sua melhor amiga, Gloriana Anastasia, uma grande mansão no número 75 da Bluff Road, era maior que a maioria das casas do bairro — quando foi construída em 1947, a casa de 25 quartos acabou com a vista da família Kleinzahler. Mas até onde o jovem August sabia, não havia nada de estranho na presença constante de um acompanhante italiano ranzinza, armado e de chapéu ao lado de Gloriana.

“Ele era a melhor babá do mundo”, afirmou Kleinzahler, que é um poeta popular, a respeito do guarda-costas de sua amiga em uma entrevista por telefone. “Ele ficava sentado ali, com a pistola brilhando à luz do sol, enquanto brincávamos na caixa de areia — nunca fomos à casa de Gloriana — e minha mãe sabia que podia sair e fazer compras sem ter com o que se preocupar.”

No dia 25 de outubro de 1957 aquilo tudo mudou. Quando Kleinzahler chegou em casa da escola, repórteres, câmeras e caminhões de imprensa rodeavam os portões de dois metros de altura que davam acesso à casa da família Anastasia.

“Eu perguntei à minha mãe o que aconteceu e ela disse que o pai de Gloriana tinha ficado muito, muito doente e que Gloriana e a mãe dela teriam que ir embora por algum tempo”, recordou.

Naquela manhã, Albert Anastasia tinha saído de casa para fazer a barba no centro de Manhattan, mas nunca saiu daquela cadeira de barbeiro. O Executor de Lord High estava morto.

Legado

Ao longo dos anos, o número 75 da Bluff Road continuou a atrair personagens curiosos e ninguém sabe ao certo quem será o próximo.

Depois da morte de Anastasia, Del Webb, o poderoso empreiteiro vindo do sudoeste americano e ex-proprietário do New York Yankees, ajudou a comprar a casa de 25 quartos para seu amigo Buddy Hackett, comediante e estrela de “Love Bug”, que costumava se apresentar nos cassinos de Webb em Las Vegas.

Quando ele se mudou para Hollywood, a casa foi para as mãos de Arthur Imperatore Sr., magnata de caminhões e balsas que transformou um único caminhão em um império bilionário e as velhas docas de Weehawken no paraíso dos apartamentos.

“Passamos 10 anos em busca de uma casa para minha esposa e no momento em que coloquei os pés naquela propriedade, sabia que havia encontrado o lugar certo”, afirmou Imperatore. “Era um retiro, uma espécie de casulo, embora estivesse no meio da ação.”

Imperatore, de 90 anos, decidiu vender a casa após a morte de sua esposa, no início deste ano.

Uma das razões por trás do preço baixo é o fato de que a casa construída por Anastasia estar exageradamente intacta. Os Hacketts e os Imperatores não mudaram muita coisa e, nos últimos anos, a tinta começou a descascar e o gesso a se soltar do teto.

Ainda assim, as telhas de cerâmica, a lareira de mármore e os pisos estão muito bem conservados. Os velhos carpetes e as janelas sem isolamento provavelmente serão trocados, mas a vista que vai da Ponte George Washington até o World Trade Center é insubstituível. A antiga cozinha e os banheiros têm mais azulejos que Pompeia.

“Com tantos conhecidos, dá pra imaginar o Anastasia indo até o sindicato dos fabricantes de azulejos e a casa recebendo o trabalho dos melhores azulejistas da cidade”, afirmou Arlan Ettinger, presidente de Guernsey e velho amigo de Imperatore, durante um passeio recente pelo local.

Casa preparada

Embora a casa se pareça com uma construção típica do pós-guerra, alguns detalhes revelam seu passado violento. As paredes de estuque têm pelo menos 35 centímetros de largura e todos os quartos têm ao menos duas portas para permitir fugas rápidas.

Sandy Hackett, o filho do comediante, se lembra de uma parede falsa no closet da irmã que levava até o quarto de visitas (a passagem parece ter desaparecido), e havia rumores de um túnel na encosta.

O porão é maior e mais bonito do que a maioria das casas comuns, com uma dúzia de cômodos, incluindo um que o velho Hackett transformou em sala de cinema, com bar e banca de balas, e que continua intacto, até com os projetores originais.

E também há um quarto estranho, coberto de azulejos e com um ralo no chão, sem mais nada. O jovem Hackett contou que seu pai converteu o local em uma sala escura para revelar fotos, mas afirmou que ele costumava dizer que antes a sala era usada para cortar os cervos depois da caça.

“Sempre que íamos até lá, o lugar estava uns cinco graus mais frio, era arrepiante e bizarro”, contou Hackett em uma entrevista por telefone. “Não sei se levavam cervos para lá, mas tenho certeza que usavam a sala para abater alguma coisa”. A família Imperatore transformou o lugar em uma sala com sauna e banheira.

A família Imperatore também tem as suas estranhezas, com pavões e galinhas d’Angola passeando pela campo de meio hectare. Um bando de periquitos escapou certa vez e até hoje vive nas árvores do local, zunindo entre estátuas e fontes.

A casa, aliás, serviu muito mais tempo a Imperatore do que a Anastasia.

O governo usou a casa como argumento contra Anastasia durante o processo de sonegação de impostos. O enteado de Imperatore, Armand Pohan, advogado e membro da câmara de vereadores de Fort Lee, afirma que um juiz contou sobre quando os promotores pegaram a planta da casa, construíram uma miniatura e usaram contra o mafioso nos anos 1950.

“Então eles perguntaram ao júri: ‘Como um homem que afirma não ter qualquer fonte de renda nos últimos cinco anos poderia ter construído uma casa dessas?’. Essa era a principal prova e eles ganharam o caso”, contou Pohan.

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