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Diário de Lisdoonvarna

Casamenteiro tenta acompanhar as mudanças

Depois de 50 e poucos anos trabalhando com combinações amorosas, Willie Daly vê suas prioridades mudarem.

Criador de cavalos por profissão, ele é também um dos últimos casamenteiros tradicionais da Irlanda, mais conhecido por presidir o festival anual romântico em Lisdoonvarna, um evento realizado durante uma semana, no outono, famoso pelas danças que duram o dia inteiro e os pedidos de casamento espontâneos, geralmente feitos tarde da noite.

O livro que ele herdou do pai, agora inclui "preferências pessoais", por exemplo, como viagens. Já em uma resposta dada na época do seu pai se lê: "Doze vacas".

Daly – que acha que está com 70 e poucos anos, mas não tem certeza porque conta que o padre que mantinha os registros bebia demais – conduz os negócios no pub durante a realização do evento. Por uma pequena taxa (de US$10 a US$15), ele anota os detalhes de quem está procurando namorado(a) no tal volume, tão recheado que tem que ser fechado com um cadarço e fita adesiva. E Daly garante que o livro tem poderes românticos sobrenaturais.

A seguir, ele pode apresentar uma pessoa a outra, comprar uma bebida para a mulher, incentivar o homem a ir dançar. "É muito uma questão de mágica. Não acredito em muito falatório", afirma. Durante o resto do ano, continua na missão de encontrar o par ideal para as pessoas por correspondência e telefone, embora tenha recebido visitas até de Nova York na sede da fazenda, no condado de Clare.

"Eu sei que muita gente está apelando para a Internet agora, mas é um lance frio; é só uma máquina", constata.

Daly calcula que tenha "dado um empurrãozinho" em cerca de três mil casamentos — mas nessa região da Irlanda, ainda há muito trabalho a fazer.

"São homens bons, decentes mesmo, que não se casaram e hoje, com 60, 70 anos, sabem que não tem ninguém que vá cuidar da fazenda. Quando morrerem, a propriedade será vendida e é uma personalidade tranquila, meiga, um estilo de vida que se acaba", divaga.

Segundo ele, os desejos das mulheres foram os que mais mudaram. "Antigamente, elas só precisavam de um teto sobre a cabeça, uma casinha que fosse delas. Hoje também fazem questão de gostar do cidadão". Daly, que por acaso está se divorciando, também ajuda aqueles que só querem namorar. De uns tempos para cá cresceu o número de forasteiros. E embora a química entre mulheres norte-americanas e homens irlandeses seja instantânea, explica que outras combinações são mais difíceis.

Os italianos simplesmente não bebem o suficiente para serem considerados românticos. "Os pedidos são mais frequentes se a pessoa já estava bebendo", ensina. Os norte-americanos às vezes têm umas exigências estranhas. "Um sujeito escreveu dizendo que a futura noiva tinha que ser 'intocada pelo bisturi'", conta Daly, que também confessa que a filha teve que explicar o que aquilo significava. "Por aqui cirurgia cosmética é colocar dentadura nova".

Rory O'Neill, ativista dos direitos gays, disse que ficou confuso ao ver a sigla "MT" ao lado dos nomes. O que significa?

"Muita terra", Daly respondeu.

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