Madri Inmaculada Echevarría tem passado grande parte de sua vida sofrendo com a deterioração de seu corpo devido à distrofia muscular. Está prostrada na cama de um hospital há 20 anos, só conseguindo mover os dedos das mãos e dos pés e deseja ferozmente morrer.
"Para mim, a vida deixou de ter sentido há muito tempo. Quero que me ajudem a morrer porque passei toda a minha vida sofrendo", disse Echeverría, de 51 anos, cujo caso gerou um debate acalorado na Espanha sobre o direito de doentes terminais receberem ajuda para morrer.
A eutanásia é ilegal na Espanha e quem ajudar alguém a morrer pode ser sentenciado a até seis meses de prisão. Mas o governo socialista quer legalizar a prática como parte de uma onda de reformas liberais que já transformou em grande medida este país tradicionalmente católico.
Com o governo de José Luis Rodríguez Zapatero, a Espanha é uma de apenas meia dezena de nações que legalizaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Também facilitou o pedido de divórcio, flexibilizou as leis sobre pesquisa com células-tronco, endureceu a legislação contra a violência doméstica e pôs fim ao financiamento oficial da Igreja católica.
Se a Espanha legalizar a eutanásia, se somaria à Holanda e à Bélgica como únicos países a autorizar essa prática, embora a Suíça permita alguns casos de suicídio assistido. Os conservadores da oposição são contra a idéia e se juntaram à Igreja para denunciar a maior parte da campanha de reformas do governo, por considerar que ela atenta contra os valores tradicionais sobre a família e a religião.
Repercussão
A iniciativa sobre a eutanásia deverá ainda ser debatida no Parlamento, mas alguns esperam que o caso de Echeverría seja decisivo. Seus apelos têm atraído grande interesse dos meios de comunicação. Os jornais, por exemplo, estampam em suas primeiras páginas fotos da paciente.
Echeverría, que ficou doente aos 11 anos, quer que os médicos desconectem o respirador que a mantém viva. Já há muito tempo abandonou seu sonho de ser médica.
Para Fernando Martín, médico e porta-voz de uma associação pró-eutanásia chamada Direito de Morrer com Dignidade, o pedido de Echeverría é legal.