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No caso da estatização argentina, por meio da expropriação de 51% das ações da petroleira YPF, estamos pisando em um terreno minadíssimo da política e da economia, alardeado para um lado ou outro segundo as conveniências, convicções e arroubos ideológicos dos diversos grupos envolvidos, nacionais e internacionais.

O sociólogo argentino Horácio Gonzalez, em artigo reflexivo sobre "Petróleo e Democracia", publicado no jornal Página 12, nos diz que, contrariamente ao que muitos afirmam, incluindo a jornalista Míriam Leitão, o ex-presidente argentino Juan Domingo Perón manteve contratos com a empresa Califórnia, subsidiária da Standard Oil, e os defendia com argumentos desenvolvimentistas – para manter os investimentos estrangeiros –, o que não evitou sua queda meses depois, por um golpe militar.

Assim, nem todas as atitudes para nacionalizar o petróleo ou para desnacionalizá-lo têm um significado político unívoco. Pode-se argumentar que o ex-presidente Getúlio Vargas, ao criar a Petrobras, defendia uma posição estatista-nacionalista, mas ele estava longe de ser um populista de esquerda. Os militares brasileiros, ao aprofundarem a estatização de empresas [no governo Geisel, o Brasil tinha mais de 500 grandes estatais], queriam instaurar um governo socialista?

Aldo Ferrer, um economista desenvolvimentista, ex-ministro de Economia da Argentina e atual embaixador argentino na França, diz que o projeto de expropriação de 51% do pacote de ações da Repsol na YPF é parte de um processo que começou em 2001, quando entrou em colapso o modelo neoliberal, e que significa um passo a mais na recuperação do Estado nacional.

Sobre a validade dos argumentos da Argentina e da Repsol, esta recebeu a solidariedade da Comissão Europeia e da Câmara do Comércio que insta o governo argentino a promover a proteção e a garantia dos negócios estrangeiros [leia-se europeus] neste país, invocando um tratado assinado com o governo Menem de 3 de outubro de 1991.

Os atores jogam seus papéis por meio de um exercício de violência simbólica: de um lado, o Estado argentino, que tenta reordenar-se na perspectiva de recuperar algo de sua soberania fragilizada pelas estratégias de desnacionalização de sua economia durante a era neoliberal menemista; de outro, a grande comunidade dos negócios, hegemônica e internacional, fazendo apelo às práticas econômicas do mercado que devem ser respeitadas pelo "business as usual" (expressão que se refere à manutenção da forma de fazer negócios) e, por fim, pela grande mídia, verdadeiro superego que nos recorda como devemos interpretar os acontecimentos da história, lembrando-nos que se trata de um tango desafinado, que são os mecanismos de mercado os únicos adequados que devem ditar os rumos da economia e das sociedades.

Até valem piadinhas contra os "hermanos" que se apressarão em "estatizar" o Messi! Pena que essa piadinha seja feita sempre contra quem busca reconquistar sua dignidade como país e como sociedade.

Na questão da indenização, a matemática terá dois parâmetros diferentes: o da Repsol e do governo argentino. As alegações se arrastarão nos tribunais internacionais, até que novo episódio jogue para o arquivo morto mais este episódio da história de conflitos entre nações periféricas e grandes interesses econômicos internacionais.

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