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Radicais na Europa

Célula extremista britânica ensaia ressurgimento

Um bairro de Luton, ao norte de Londres, Inglaterra, em 18 de abril de 2019. Segundo ex-membros do Al-Muhajiroun, uma das redes extremistas mais prolíficas da Europa, a cidade é uma das áreas em que a rede, co-fundada por Anjem Choudary, um dos clérigos islâmicos mais radicais do país, está se reagrupando
Um bairro de Luton, ao norte de Londres, Inglaterra, em 18 de abril de 2019. Segundo ex-membros do Al-Muhajiroun, uma das redes extremistas mais prolíficas da Europa, a cidade é uma das áreas em que a rede, co-fundada por Anjem Choudary, um dos clérigos islâmicos mais radicais do país, está se reagrupando (Foto: Andrew Testa / The New York Times)

Enquanto os outros países europeus se veem preocupados com os extremistas do Estado Islâmico voltando, fortalecidos, para a Síria e o Iraque, o Reino Unido enfrenta outro problema: a ressurgência da célula militante doméstica Al-Muhajiroun, uma das redes radicais mais prolíficas da Europa, implicada com os atentados de Londres de 2005.

Depois daqueles ataques, o governo britânico aprovou uma série de leis de contraterrorismo e adotou uma campanha de repressão contra extremistas islâmicos. Muitos foram condenados à prisão ou restritos a centros de reabilitação por até dez anos, às vezes até mais.

Entretanto, um dos fundadores do Al-Muhajiroun, Anjem Choudary, foi fotografado este mês perto de sua casa, em East London, usando uma túnica branca longa e uma tornozeleira eletrônica preta. Autoridades confirmaram que aquele que é considerado um dos clérigos islâmicos mais radicais do país saiu do núcleo AP (Approved Premises) em que se encontrava, depois de cumprir mais da metade da pena longa que recebeu por incitar o apoio ao Estado Islâmico.

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Ele permanece sob monitoramento constante, mas o fato é que já deu início ao processo gradual de se tornar um homem livre – e não é o único.

Tendo cumprido suas penas, muitos membros da antiga rede de Choudary estão aos poucos ganhando liberdade. Longe de arrependidos ou recuperados, eles começaram a se remobilizar, prometendo acolher extremistas de extrema-direita e renovar a campanha antiga de eliminar a democracia no Reino Unido e estabelecer um califado administrado sob a lei xaria, segundo entrevistas com alguns dos antigos membros.

Reagrupamento

Fundada em 1996, a Al-Muhajiroun, que usou vários nomes ao longo do tempo, há anos zomba das forças de segurança britânicas graças à sua capacidade de continuar operante, apesar de proibida, em 2006, por causa de sua ligação com o terrorismo. Depois de um período latente, o grupo agora passou a trocar de nome com frequência, adotando táticas discretas, usando aplicativos criptografados e promovendo reuniões em locais secretos.

Segundo ex-membros, as áreas onde a rede está se reagrupando incluem East London, Luton, uma cidade ao norte de Londres, e o condado de Bedfordshire.

"Os muçulmanos estão sendo atacados no mundo inteiro. Nossa missão hoje é muito mais urgente e, com Anjem e outros irmãos fora da cadeia, é hora de nos reagruparmos e lutarmos com mais garra que antes", diz Laith, ex-integrante do Al-Muhajiroun que só se identifica pelo nome do meio por medo de ser indiciado.

A possibilidade de ressurgência do grupo é motivo de profunda preocupação para as autoridades britânicas. Em maio, Andrew Parker, diretor geral do MI5, agência de segurança nacional e contrainteligência, divulgou um raro alerta público sobre os riscos contínuos das redes extremistas, enfatizando a ameaça que os grupos pró-Estado Islâmico representam.

"No Reino Unido ainda há indivíduos que se inspiram na doutrinação do EI, mesmo não demonstrando qualquer interesse de ir para a Síria", escreveu ele no jornal "The Evening Standard".

Por enquanto, Choudary está proibido de falar em público ou de entrar em contato com a antiga rede, mas vários ex-membros já confirmaram que sua soltura e a de outros líderes deram um novo ânimo ao grupo – que está ligado a 25 por cento de todas as condenações relacionadas ao terrorismo islâmico no país entre 1998 e 2015.

"Alguns ativistas começaram a se reagrupar e estão testando o ambiente enquanto voltam aos poucos a se engajar no movimento", comenta Michael Kenney, professor associado de Assuntos Internacionais da Universidade de Pittsburgh, que passou anos infiltrado na organização como parte da pesquisa para seu livro "The Islamic State in Britain".

É impossível não reconhecer a importância do papel de Choudary como incentivador dos extremistas. Este mês, por exemplo, a BBC confirmou que um dos responsáveis pelo atentado de domingo de Páscoa no Sri Lanka, Abdul Lathief Jameel Mohamed, foi radicalizado por ele depois de assistir a seus sermões durante o curso de um ano que fez no exterior, em 2006.

"Nenhum outro cidadão britânico tem tanta influência sobre tantos terroristas como Choudary", confirma Nick Lowles, executivo-chefe do grupo de fiscalização contra o racismo britânico Hope Not Hate, que identificou 120 militantes ligados ao imã.

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