Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) da Bahia estão se preparando para testar o potencial das células-tronco adultas para ajudar pessoas que sofreram lesões na medula espinhal e ficaram com parte do corpo paralisada. Após resultados animadores em animais cães e gatos voltaram a ficar de pé após meses em estado paraplégico , o grupo coordenado pelo médico Ricardo Ribeiro dos Santos espera a autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para iniciar os primeiros testes em humanos.
"Submetemos nosso pedido há cerca de seis meses", contou Ribeiro dos Santos ao G1 durante o 54. Congresso Brasileiro de Genética, que acontece em Salvador e termina nesta sexta (19). "É claro que gente é gente, e não podemos garantir que os mesmos resultados aconteçam com os pacientes humanos, mas estamos animados", diz o pesquisador, um dos líderes na pesquisa com células-tronco no Brasil.
Ainda existe um grande debate a respeito do que as células-tronco adultas realmente podem fazer em termos terapêuticos. Não há dúvidas de que as células-tronco embrionárias, obtidas a partir de embriões com cerca de cem células, são extremamente versáteis, capazes de assumir a função de qualquer tecido do organismo. No entanto, ainda não se sabe ao certo como controlar a diferenciação (especialização) delas, o que impede, por enquanto, que elas sejam testadas em humanos.
Já as células-tronco adultas parecem envolver menos problemas de segurança, uma vez que são menos "rebeldes" em seu processo de diferenciação e, em muitos casos, podem ser extraídas do próprio paciente que vai recebê-las, evitando riscos de rejeição. Por outro lado, os pesquisadores têm dúvidas sobre a capacidade delas de se transformar em tecidos variados; para muitos, elas teriam apenas um papel de "suporte de vida", estimulando a regeneração de órgãos lesados e impulsionando a formação de vasos sangüíneos para alimentá-los.
Cultivo especial
De qualquer maneira, pesquisadores brasileiros já utilizaram células-tronco adultas, provenientes principalmente da medula óssea, para tratamentos experimentais contra doenças cardíacas, derrames e diabetes tipo 1, entre outros problemas de saúde. "Já houve testes para tratar lesões da medula espinhal, mas a coisa não deu muito certo", diz Ribeiro dos Santos. Para tentar evitar que o problema se repita, o novo protocolo desenvolvido pelos pesquisadores da Fiocruz envolve a obtenção de células-tronco da medula óssea e de tecido adiposo e seu posterior cultivo em laboratório durante três semanas, período no qual as células mais promissoras para o transplante são selecionadas.
Nos cães e gatos paraplégicos, os resultados foram animadores. "Eles conseguem ficar de pé, nem que seja só para brigar, como no caso de alguns dos bichos", brinca Ribeiro dos Santos. "O controle urinário também melhora bastante. Se isso for reproduzido em humanos, já será um grande avanço", afirma ele. A intenção é fazer os testes iniciais, destinados a comprovar que a terapia não piora o estado dos pacientes, num grupo de 20 pessoas.
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