As autoridades israelenses em Jerusalém reformam os cemitérios judeus, os abandonam e impedem os árabes de usá-los, denuncia a ONG arqueológica israelense Emek Shaveh, que acredita que essa gestão visa o fortalecimento da ocupação da parte palestina da cidade.
O lado ocidental do Monte das Oliveiras está cheio de túmulos de milhares de judeus cuja tradição afirma que nesse lugar começará a ressurreição, após a vinda do messias.
As escavadeiras ampliam o imenso cemitério, diante do qual se constrói outro, o muçulmano Bab El Rahma (A Porta Dourada), aos pés da Esplanada das Mesquitas e muito mais deteriorado.
"Calculamos que foram investidos o equivalente a 7 milhões de euros desde 2005 no cemitério judeu do Monte das Oliveiras, que consome boa parte do investimento municipal para as renovações de Jerusalém Oriental", disse à Agência Efe Yonathan Mizrahi, diretor de Emek Shaveh.
Vários grupos de turistas visitam o lugar, que conta com segurança 24 horas e no qual trabalham equipes de manutenção.
Segundo um arqueólogo, o cemitério de Bab El Rahma "não recebe cuidados, não tem um desenvolvimento comparável nem investimento das autoridades israelenses", além de terem sido proibidos os enterros na região sul, que pertence aos moradores do bairro palestino de Silwan.
Os dois cemitérios têm grande importância histórica e social - o judeu data do século XIV d.C. e o muçulmano, de acordo com a crença local, de VIII d.C.
Youssef Al Natshe, diretor de Arqueologia do Waqf (autoridade islâmica), afirma que Israel "não permite enterros no sul de Bab El Rahma" porque "quer construir um centro arqueológico no local".
Mizrahi acredita que os cemitérios da cidade se tornaram ativos políticos na luta pela soberania de Jerusalém Oriental, ocupada por Israel após a Guerra dos Seis Dias (1967).
"Os enterros em Jerusalém são um testemunho do desejo dos judeus por Sião. O reforço da ligação judaica com o Monte das Oliveiras e com os túmulos do vale de Kidron cria uma barreira entre os bairros palestinos que os cercam e a Cidade Antiga", explicou o especialista.
Para Mizrahi, apesar de as autoridades israelenses reconhecerem a importância da região para outras tradições religiosas, o desenvolvimento do Monte das Oliveiras "ressalta apenas a tradição judaica e seus laços com o Israel atual. O Monte das Oliveiras se tornou um reduto israelense em Jerusalém Oriental".
O dirigente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat, disse à Efe que "Israel usou todas as ferramentas possíveis para forçar sua colonização e transformar a ocupação em uma anexação efetiva. Não vamos permitir o uso dos cemitérios para cercar a Cidade Antiga e impedir o acesso do nosso povo".
Já Evyatar Cohen, diretor da Autoridade de Parques Nacionais de Israel para Jerusalém, defende que a renovação do cemitério judeu é imprescindível pelos danos que sofreu quando esteve sob controle jordaniano (1948-1967).
Bab El Rahma "é propriedade do Waqf, que não aceita nem um shekel do Governo israelense. Os muçulmanos têm um problema de espaço em seus cemitérios, mas em vez de solucioná-lo, estão enterrando em áreas verdes não autorizadas, e há vandalismo e roubo de túmulos", destacou Cohen.
Quanto à região sul de Bab El Rahma, Cohen destacou que o lugar "é uma zona arqueológica que não pertence ao cemitério, e onde os enterros não podem ser feitos".
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