Comunistas russos homenageiam Lenin no centenário de sua morte, em manifestação perto do mausoléu do líder comunista na Praça Vermelha, em Moscou.| Foto: Sergei Ilnitsky/EFE/EPA
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O Kremlin silenciou, assim como aconteceu com a Revolução Bolchevique, o centenário da morte de Vladimir Lenin, cuja figura se tornou um estorvo às atuais autoridades, determinadas a revisar a desintegração da União Soviética.

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Quase metade dos russos (47%) tem uma opinião positiva sobre o fundador da URSS, menos do que no caso do seu sucessor, Josef Stalin, que vem sendo reabilitado pela historiografia oficial, segundo uma sondagem publicada na sexta-feira pelo Centro de Estudos da Opinião Pública (Vtsiom). Em relação ao trabalho empreendido por Lenin, 36% dos russos acreditam que foi benéfico; 19% consideram-no prejudicial ao desenvolvimento do país e 30% consideram que fez coisas boas e ruins em igual medida.

Putin culpa Lenin por desenho de fronteiras entre Rússia e Ucrânia

O Kremlin, muito relutante em comemorar qualquer efeméride ligada à Revolução de 1917, ignorou completamente o aniversário. Não há eventos públicos, conferências ou grandes exposições. A única mostra comemorativa do aniversário acontece na biblioteca do Centro de História Sociopolítica, no norte de Moscou. “A maioria dos jovens não sabe muito bem quem é Lenin”, disse à reportagem uma das bibliotecárias.

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O presidente russo, Vladimir Putin, também não fez qualquer referência ao centenário nos últimos dias, mas criticou as decisões de Lenin, a quem fustigou pelos graves erros cometidos na fundação da URSS. Putin lembrou que os líderes do leste pró-Rússia da Ucrânia expressaram, na época, seu desejo de fazer parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, mas Lenin optou por integrar esses territórios na Ucrânia, origem do conflito atual. “As pessoas que vivem nesses territórios, claro, nunca se viram de outra forma a não ser como parte da Rússia. É algo evidente”, afirmou Putin em um evento recente com prefeitos russos.

Mausoléu tem poucas filas

Embora a entrada seja gratuita, às vésperas do centenário não havia longas filas para entrar no mausoléu de mármore que abriga como ouro o corpo embalsamado do líder comunista. Assim que se entra no mausoléu, um guarda pede ao visitante que tire o chapéu, fique em silêncio e não tire fotos.

A visita consiste em descer uma escada, olhar rapidamente e correr até o sarcófago onde se encontra o corpo embalsamado de Lenin e, sem parar, sair do local. Ninguém apressa os visitantes, porém, na Necrópole do Kremlin, onde estão enterrados os principais líderes soviéticos, com exceção de Nikita Krushchev, que foi destituído, e Mikhail Gorbachev, que assinou o fim da URSS em 1991.

No túmulo de Stalin, que acompanhou Lenin no mausoléu por vários anos, havia várias flores. No busto do ditador ainda é possível ver como seu nariz foi quebrado e substituído assim que se acalmaram os ânimos antissoviéticos.

Em uma demonstração de que o Kremlin não quer sustos, as autoridades fecharam a feira de Natal que fazia as delícias dos moscovitas nas pedras da Praça Vermelha. O centro da praça foi isolado pela polícia, que instalou várias vans nas ruas adjacentes para evitar prisões. Afinal, a Rússia é um país em guerra, cuja retaguarda é objeto de contínuos ataques e sabotagens ucranianos.

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Comunistas homenageiam líder com flores

Mesmo sem apoio oficial, os comunistas russos lembraram a data colocando flores no mausoléu, um evento que transcorreu em meio a rigorosas medidas de segurança na Praça Vermelha. Centenas de comunistas, saudosistas da União Soviética e curiosos foram ao coração de Moscou para prestar homenagem ao líder bolchevique, falecido em 1924, como fazem em todo 21 de janeiro.

“Lenin foi para o outro mundo, mas ficou para sempre na humanidade”, disse Gennady Zyuganov, líder comunista, em declarações à imprensa na Praça Vermelha. Zyuganov também destacou que o líder proletário tentou criar “um novo mundo” governado pelo trabalho e não pelo capital.

Membros do partido disseram à reportagem que as baixas temperaturas, que rondaram os 15 graus negativos, reduziram o afluxo de militantes e do público em geral. Ainda assim, comunistas de todas as idades lutaram contra o frio agitando bandeiras com a foice e o martelo e entoando canções soviéticas. Além disso, colocaram grandes coroas de flores na entrada do mausoléu que abriga o corpo embalsamado de Lenin, assim como flores no túmulo de Stalin, que fica entre aquela construção de mármore e as paredes vermelhas do Kremlin.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]