Imagem feita pelo site da organização Tamilnet.com mostra crianças vitimadas pelos ataques na zona de guerra no Sri Lanka| Foto: HO / AFP Photo

As Nações Unidas disseram na segunda que os ataques no Sri Lanka que deixaram centenas de mortos foram a concretização do "banho de sangue" que a organização temia havia muito tempo. Os Tigres do Tâmil e o governo trocaram acusações, antes de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para discutir a guerra.

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No mais recente e maior ataque relatado contra civis presos na zona de guerra, centenas de pessoas foram mortas no domingo e nesta segunda-feira (11) em ataques seguidos de artilharia contra uma faixa de território de menos de cinco quilômetros quadrados que está sob controle dos rebeldes separatistas.

Os trunfos em jogo não poderiam ser mais altos para o Sri Lanka, que não quer ver arrebatada sua vitória convencional iminente na guerra que já se arrasta há 25 anos, nem para os Tigres do Tâmil, que juraram não se render apesar de enfrentar forças governamentais avassaladoras.

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"Já faz tempo que avisamos sobre a possibilidade de um banho de sangue, e a matança em grande escala de civis no fim de semana, incluindo mais de cem crianças, parece indicar que o banho de sangue virou realidade", disse um porta-voz da ONU, Gordon Weiss.

Num documento interno em março, as Nações Unidas avisaram que civis poderiam ser mortos ou pelo grupo Tigres pela Libertação do Tâmil Eelam, que poderia promover um massacre e tentar atribuí-lo ao governo, ou por um avanço militar indiscriminado.

Os rebeldes atribuíram a matança ao governo, que, por sua vez, disse que a guerrilha disparou contra pessoas que mantém reféns há meses, numa iniciativa de última hora para tentar garantir pressões internacionais por uma trégua, assim evitando sua derrota.

Um médico na zona de guerra, pago pelo governo, mas cuja segurança pessoal depende dos Tigres do Tâmil, disse que pelo menos 433 corpos foram levados a um hospital improvisado e que 1.347 pessoas ficaram feridas em dois dias de disparos de artilharia.

"A maioria dos corpos está nas estradas, nas casas e em todo lugar. Com o fogo de artilharia, deve haver mais mortos, cerca de mil", disse o homem que se identificou como Thurairajah Varatharajan, responsável médico sênior do distrito.

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Sem independência

Conseguir uma visão clara do que vem acontecendo na zona de guerra - conhecida como Wanni - é quase impossível, já que o acesso à área está praticamente fechado a pessoas de fora, enquanto as pessoas dentro dela não estão livres de pressões frequentemente aplicadas sob a mira de armas.

"Nada que sai de Wanni pode ser objetivo e independente", disse a jornalistas o ministro dos Direitos Humanos, Mahinda Samarasinghe. "Sabemos que os Tigres exercem controle total e que esses funcionários públicos (os médicos) estão vivendo sob pressão."

O site pró-rebelde www.TamilNet.com citou um líder sênior do grupo como tendo dito que 2.000 pessoas foram mortas. Ele teria negado a responsabilidade dos rebeldes no massacre.

"Convocamos a comunidade internacional e o Conselho de Segurança da ONU a tomar com urgência todas as medidas capazes de genuinamente prevenir outros massacres", teria declarado o chefe diplomático do grupo rebelde, Selvarajah Pathmanathan.

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Pathmanathan foi durante anos o principal contrabandista de armas dos Tigres do Tâmil e é procurado pela Interpol.

O grupo trava uma guerra civil sem tréguas desde 1983 pela criação de um Estado separado para a minoria tâmil no norte e leste do Sri Lanka.