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Mulheres em rua de Teerã, no Irã
Mulheres em rua de Teerã: país vive onda de envenenamentos contra meninas desde novembro, que seria motivada por grupos contra educação feminina.| Foto: Jaime León/EFE

Em meio a uma onda de intoxicações contra meninas em centros educacionais femininos no Irã, centenas de garotas foram hospitalizadas neste sábado (4) após envenenamento com gás em pelo menos nove escolas de diversas cidades do país. Os casos vêm acontecendo desde novembro do ano passado e se multiplicaram nos últimos dias. Eles seriam motivados por grupos contrários à educação feminina.

Embora as autoridades e a mídia oficial iraniana confirmem envenenamentos em nove escolas, grupos de ativistas afirmam que são pelo menos 40 os centros educacionais femininos afetados. O coletivo 1500tasvir relatou casos de envenenamento por gás em cidades como Teerã, Shahriar, Pakdasht, Borujerd, Safadasht, Lahijan e Rasht.

As jovens sofrem de dores de cabeça, palpitações cardíacas, náuseas, tonturas e, às vezes, incapacidade de mover os membros após sentirem o cheiro de laranja podre e produtos de limpeza. Os ativistas compartilharam vídeos nas redes sociais de pais nas portas de escolas e secretarias educativas de várias cidades do país gritando palavras de ordem contra o governo por conta da onda de envenenamentos que já afetou mais de mil alunas em centros educativos femininos.

Em Kavar, no sul do Irã, pelo menos 27 alunas de uma escola da cidade foram hospitalizadas após sofrerem de náuseas e tonturas, disse à agência de notícias iraniana Tasnim o porta-voz do Departamento de Educação da província, Hamidreza Shabani. Segundo ele, as jovens estariam bem.

Em outro caso, 30 estudantes de uma escola da cidade de Urmia, no noroeste do país, deram entrada em centros médicos com sintomas de intoxicação, também segundo a Tasnim, sem citar fontes oficiais. Na cidade de Zanjan, no norte, 29 jovens foram afetadas. Elas foram encaminhadas a um hospital e passam bem, segundo o reitor da Universidade de Ciências Médicas da cidade, informou o jornal local Shargh.

Setenta e sete alunas de duas escolas nas cidades de Hamedan e Kabudarahang, no leste do país, também sofreram envenenamentos. Destas, 13 permanecem sob observação médica, informou o Shargh. Além disso, as estudantes de uma das escolas de Karaj, vizinha de Teerã, também estavam intoxicadas, algo que se repetiu nas cidades de Tabriz, Basmanj e Stardadashi, segundo o mesmo jornal.

Reações do governo e apelo internacional

O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, afirmou que os inimigos do país estão realizando esses ataques com gás para provocar o caos e garantiu que vai acabar com o que chamou de “conspiração”. Enquanto isso, os ministérios do Interior e da Inteligência investigam os envenenamentos, mas ainda não relatam nenhum avanço que esclareça o que está acontecendo em um país onde a educação feminina não foi questionada nos 43 anos de República Islâmica.

Internacionalmente, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos também pediu uma "investigação transparente" para os casos de intoxicações no Irã e divulgações sobre as apurações. E ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, classificou como “chocantes” os acontecimentos, reforçando que devem ser esclarecidos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também afirmou que está cuidando do tema, mantendo contato com autoridades sanitárias e profissionais de saúde do Irã.

Protestos da população

Os casos de intoxicações no Irã estão alimentando o descontentamento popular, especialmente entre os pais, que declaram ineficácia das autoridades em deter os ataques que parecem destinados a paralisar a educação das alunas.

O país vive uma grande tensão nos últimos meses devido aos protestos desencadeados pela morte da jovem Mahsa Amini, em setembro do ano passado. Ela foi presa por não usar o véu islâmico de forma adequada. Segundo a família, a jovem teria sido morta na prisão em decorrência do ato. O acontecimento foi motivante de uma das maiores ondas de protestos contra o regime político do Irã nas últimas décadas.

As alunas das escolas e institutos participaram dos protestos, tiraram os véus, gritaram "mulher, vida, liberdade" e cortaram as mangas para os retratos do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, e do aiatolá Ruhollah Khomeini.

A repressão do Estado conseguiu acalmar os protestos, nos quais quase 500 pessoas morreram e quatro manifestantes foram enforcados.

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