Os presidentes de Sudão e Chade assinaram nesta quinta-feira um acordo em que se comprometeram a não apoiar grupos rebeldes, em uma nova tentativa para levar a paz à conflituosa região sudanesa de Darfur. Com mediação do líder líbio, Muammar Kadafi, o compromisso foi selado entre o presidente sudanês, Omar al-Bashir, e o governante do Chade, Idris Déby, tendo o presidente da Eritréia, Isaias Afeworki, como testemunha.
Segundo os termos do comunicado final da reunião, Sudão e Chade se comprometeram a aplicar "de maneira honesta" o acordo de paz assinado em Trípoli, no dia 8 de fevereiro de 2006, respeitando suas respectivas soberanias. Além disso, se comprometeram a não realizar nenhuma atividade hostil, e trabalhar pelo restabelecimento pleno de todas as relações entre ambos.
Para isso, foi determinada a constituição de um comitê conjunto para supervisionar o acordo, formado por Líbia e Eritréia, com a presença de representantes de Sudão e Chade.
"O comitê conjunto deverá trabalhar imediatamente para cumprir sua incumbência", diz o comunicado final da reunião.
Kadafi, comprometido com a unidade africana e imbuído de sua aura nacionalista, exortou os grupos rebeldes, que não estavam representados na reunião, a abandonar as armas.
Em primeira instância, o objetivo do encontro organizado por Kadafi era conseguir que os movimentos rebeldes de Darfur - que combatem o regime de al-Bashir - largassem as armas e aceitassem o acordo de paz apadrinhado pela União Africana (UA), em maio de 2006, na cidade nigeriana de Abuja.
Apenas um desses grupos, o autoproclamado Movimento pela Libertação do Sudão (MLS), do chefe rebelde Minni Minnawi, assinou o acordo, que especifica um cessar-fogo, o desarmamento das milícias e sua integração no Exército regular sudanês.
Em segunda instância, o motivo da reunião era convencer os rebeldes chadianos que combatem o regime de N'djamena, a promover a paz e aceitar a autoridade do presidente Deby.
A aposta é ampla e difícil de ser realizada em curto prazo, como o próprio Kadafi admitiu no discurso de encerramento da reunião, no qual, alternando um tom paternalista com palavras ameaçadoras, advertiu os rebeldes de que eles serão "castigados", caso não façam a paz.
"Não discutimos a existência de povos marginalizados, mas não é com fuzis e lança-granadas que os conflitos entre irmãos africanos devem ser resolvidos", afirmou o líder.
Kadafi, em apoio à posição do Sudão, argumentou que são os africanos, e não as Nações Unidas, que devem resolver a guerra de Darfur.
A recusa do Sudão em aceitar uma força internacional de interposição na região, que sofre com as violações dos direitos humanos, segundo a ONU, tem Kadafi como um de seus mais firmes aliados.
Em quatro anos de guerra, o conflito enfrentado pelas tropas sudanesas, com o apoio de milícias árabes Janjawid, contra as tribos africanas, provocou a morte de 300 mil pessoas, e fez mais de dois milhões e meio refugiados.
As milícias árabes foram acusadas de pôr em prática uma operação de purificação étnica contra a população negra da região.
O Sudão, maior nação do continente africano, sofre múltiplas divisões religiosas, étnicas e sócio-econômicas, acentuadas pelas lutas para apropriar-se das riquezas naturais, desde que foi descoberto petróleo no sul do país, em 1978.