O Chade enfrenta uma crise humanitária "de dimensões dramáticas" devido à falta de alimentos provocada pelas poucas chuvas, a epidemia de cólera e o retorno em massa de milhares de cidadãos do país que estavam na Líbia.
Em entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (15) em Genebra (Suíça), o coordenador humanitário das Nações Unidas no Chade, Thomas Gurtner, ressaltou, apesar deste cenário, os avanços conquistados em segurança nos últimos dois anos, e a intenção das autoridades do país em auxiliar a população mais necessitada.
O país, que fica na região do Sahel, é fortemente afetado pela fome, já que tem cerca de 1,5 milhão de pessoas desnutridas e uma taxa de desnutrição infantil severa de 20%.
Segundo Gurtner, é provável que estes números aumentem nos próximos meses devido às poucas chuvas, apesar do começo da temporada de precipitações, o que causará uma queda na produção agrícola e um consequente aumento nos preços dos alimentos.
Além disso, a chegada de emigrantes da Líbia pressiona ainda mais o Sahel, já que mais da metade das 80 mil pessoas que retornaram ao Chade durante o conflito líbio são provenientes desta região.
Gurtner esclareceu que a crise alimentícia não chega aos níveis do Chifre da África porque várias agências da ONU estão há 18 meses trabalhando no país, onde criaram 200 centros de alimentação suplementar e conseguiram manter os níveis de desnutrição.
Outro problema do Chade, que está entre os cinco países mais pobres do mundo, é a epidemia de cólera sem precedentes que vive neste momento, deixando cerca de 13,5 mil pessoas afetadas e 400 mortes.
"Não houve uma epidemia de cólera semelhante desde 1991, que contaminou 14 mil pessoas, quase o mesmo que agora, com a diferença que se prevê que o número de doentes ultrapasse os 15 mil à medida que a temporada de chuvas avance", explicou Gurtner. Também há focos de cólera em países vizinhos como Camarões, Níger e Nigéria.
O coordenador humanitário da ONU no Chade ressaltou que o grupo populacional mais vulnerável a todos estes problemas é o composto por cerca de 180 mil refugiados internos no país, que surgiu como consequência da guerra civil entre 2007 e 2009.
No Chade também vivem cerca de 250 mil refugiados procedentes de Darfur e 130 mil procedentes da República Centro-Africana, que, no entanto, habitam acampamentos um pouco melhor equipados com serviços de água e saneamento em relação aos que vivem os refugiados.
"É fundamental que a comunidade internacional seja alertada sobre a crise humanitária de proporções dramáticas que o Chade viverá em poucos meses, caso não atuemos agora", ressaltou Gurtner.