Nova Iorque - Um chamado para agir em prol da paz. Foi assim que o presidente dos EUA, Barack Obama, reagiu ontem ao saber que foi premiado com o Nobel da Paz. No comando de duas guerras, no Afeganistão e no Iraque, Obama foi escolhido para receber por seus "extraordinários esforços para fortalecer a diplomacia e a cooperação entre os povos". A decisão surpreendeu a comunidade internacional e até o líder norte-americano, que não esperava o prêmio
"Sinto-me surpreso e profundamente lisonjeado com a decisão da Comissão do Nobel. Mas deixe-me ser claro: não vejo isso como reconhecimento das minhas realizações, mas como uma afirmação da liderança americana em nome das aspirações dos povos em todas as nações", disse.
Obama foi o terceiro presidente norte-americano a ganhar o Nobel durante o mandato os outros foram Theodore Roosevelt, em 1906, e Woodrow Wilson, em 1919. Jimmy Carter também foi premiado, mas em 2002 mais de duas décadas depois de deixar a presidência.
No discurso de agradecimento na Casa Branca, no fim da manhã de ontem, Obama afirmou ter sido acordado pela filha Malia, que disse: "Papai, você ganhou o Prêmio Nobel." "Para ser honesto, não sinto que mereça estar na companhia de tantas figuras transformadoras que foram homenageadas com esse prêmio homens e mulheres que me inspiraram e inspiraram o mundo inteiro com suas corajosas lutas pela paz", prosseguiu o líder americano, que, mais tarde, informou o que doará a premiação em dinheiro para a caridade.
Segundo a Casa Branca, o presidente irá para Oslo receber o prêmio em 10 de dezembro. Diferentemente dos outros Prêmios Nobel, o da Paz é oferecido por um comitê norueguês, e não por instituições suecas. Na época de Alfred Nobel, Suécia e Noruega faziam parte de um mesmo reino.
Momento delicado
O anúncio ocorre numa semana em que Obama está envolvido em discussões sobre qual estratégia seguir no Afeganistão. O comandante das forças americanas, general Stanley McChrystal, pediu o envio de 40 mil soldados para se somarem aos 68 mil que já estão no território afegão dos quais 21 mil foram enviados pelo próprio Obama neste ano. Alguns membros do governo, como o vice-presidente, Joe Biden, são contra. Os EUA também mantêm mais de 100 mil militares no Iraque.
O anúncio provocou reações antagônicas nos EUA e em outros países. De um lado, críticos disseram ter sido muito cedo para o pre sidente, que ainda não completou um ano de mandato, receber o Nobel e, por enquanto, sua administração não alcançou nenhum resultado - com tropas americanas no Iraque, no Afeganistão, o risco de o Irã desenvolver uma bomba nuclear, pouco avanço no diálogo entre israelenses e palestinos e uma política para a Coreia do Norte que não difere de seu antecessor, George W. Bush.
Já os defensores da premiação argumentam que Obama alterou a forma como a liderança norte-americana é vista internacionalmente, ao impor um discurso mais favorável à paz, como o realizado em junho no Cairo para o mundo islâmico.