Como era esperado, o primeiro encontro do presidente da Argentina, Mauricio Macri, com autoridades do governo venezuelano no âmbito do Mercosul provocou um forte e agressivo debate entre ambos.
Depois de o chefe de Estado argentino ter pedido publicamente a liberação dos presos políticos venezuelanos, a chanceler do país, Delcy Rodríguez, acusou Macri de “ingerência” em assuntos internos e foi mais longe ao afirmar que uma de suas primeiras medidas de governo foi liberar militares condenados por crimes cometidos na última ditadura (1976-1983). A informação dada pela ministra venezuelana não é correta.
“Entendo que Macri queira pedir a liberação destes violentos (em referência aos presos políticos), porque uma de suas primeiras medidas de governo foi liberar os responsáveis por torturas e assassinatos da ditadura argentina… deixe de defender os violentos”, declarou a chanceler venezuelana, que está representando o presidente Nicolás Maduro, único chefe de Estado ausente no encontro.
Delcy mostrou fotos dos protestos ocorridos no país em fevereiro de 2014, entre elas do dirigente opositor Leopoldo López, condenado há 13 anos de prisão, e disse que o presidente da Argentina está defendendo “terroristas” que “incendiaram ministérios públicos, institutos públicos, caminhões de comida e atentaram contra o acesso dos venezuelanos à alimentação e educação”.
“Se vamos falar de direitos humanos, falemos de forma franca… temos de fazê-lo sem dupla moral, temos de fazê-lo com sinceridade”, alfinetou a chanceler venezuelana.
Enquanto Macri observava o discurso da ministra de Maduro com uma expressão de visível incômodo, Delcy elevou o tom e acusou o presidente argentino de estar defendendo López e se envolvendo em questões internas de seu país.
“Estamos de acordo com os direitos humanos e a Venezuela é modelo no mundo, não existem países que tenham programas sociais como os da Venezuela hoje em dia”, assegurou Delcy.
A ministra disse que na Venezuela há poderes públicos independentes que devem ser respeitados pela comunidade internacional.
“Não podemos falar sobre direitos humanos para defender os violentos e terroristas e criminalizar os protestos sociais”, enfatizou Delcy, que se referiu a uma declaração a presidente das Mães da Praça de Maio, Hebe Bonafini, por recentes declarações numa manifestação contra o governo Macri, considerado por ela como “o inimigo”.
Em seu discurso, Macri pediu prudência à oposição da Venezuela frente aos resultados eleitorais e, também, solicitou aos Estados membros, em especial ao governo venezuelano, que trabalhem incansavelmente para consolidar uma verdadeira cultura democrática na região.
“Neste sentido, quero pedir expressamente aqui diante de todos os queridos presidentes dos estados partes do Mercosul pela liberação rápida dos presos políticos na Venezuela. Porque nos estados membros do Mercosul, não pode haver lugar para a perseguição política por razões ideológicas nem a privação ilegítima da liberdade por pensar diferente”, enfatizou o presidente argentino.
Enquanto isso, a presidente Dilma Rousseff seguiu a mesma linha moderada dos demais países do bloco e felicitou o presidente Maduro e o povo venezuelano pelo espirito democrático.