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opinião

Charlie Hebdo, a liberdade de provocar

Ao atacar Charlie Hebdo, os terroristas declaram guerra à liberdade de expressão, um valor defendido por essa grande instituição midiática francesa desde sua criação. Ao longo de sua história, o semanário satírico se destacou por sua habilidade em usar o humor como uma grande força de provocação.

Em 1970, Georges Bernier, também conhecido como Professor Choron, e o autor e cartunista François Cavanna lançaram o que se tornou uma das revistas mais estimadas pelos franceses após a interdição do jornal mensal Hara-Kiri pelo governo. O motivo da interdição? O jornal publicou uma capa zombando da morte do General De Gaulle, ex-presidente do país e umas das figuras mais emblemáticas do século 20.

Charlie Hebdo contou com alguns dos melhores cartunistas franceses, como Georges Wolinski e Jean Cabut, além do apoio de intelectuais reconhecidos, como o escritor Jean-Paul Sartre. Nas páginas do jornal, famoso por suas ilustrações provocantes, todos sempre foram alvo de sátiras ácidas: as religiões, o poder, a elite.

Charlie Hebdo tornou o riso e a provocação suas armas mais afiadas. Em 2006, a redação decidiu reproduzir as caricaturas de Maomé publicadas pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten, abrindo um novo capítulo em sua história. Apesar da polêmica e de ameaças de morte, o jornal continuou a representar a esquerda antirracista francesa, criticando a radicalização de alguns extremistas à custa de uma maioria de moderados.

Em 2011, a sede de jornal foi destruída por um incêndio terrorista. Logo em seguida, o diretor da publicação, Stéphane Charbonnier, declarou ao jornal Le Monde que "preferia morrer de pé que viver de joelhos." "Charb", como ele costumava ser chamado, é uma das 12 vítimas assassinadas por sua luta pela liberdade de expressão e de imprensa. Essa luta nobre, ameaçada pelo terror e pelo obscurantismo, continua firme, na França, no Brasil e no mundo inteiro.

Simon Benoit-Guyod, jornalista francês, está em Curitiba há dois anos.

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