Até mesmo cães e gatos amam Hugo Chávez nos becos de La Vega. Pelo menos é o que gracejam os agradecidos proprietários que fazem fila com seus bichos de estimação para aproveitar a última iniciativa da rede de organizações do presidente socialista venezuelano: a castração subsidiada. "Se a oposição assumir, perdemos todos os serviços que Chávez nos dá. Voltamos ao zero", disse Laura De Pernalete, ajudando a organizar o programa de esterilização no bairro pobre de Caracas. "La Vega é 100% Chávez". As "missões" levando serviços para as favelas e áreas rurais empobrecidas da Venezuela - de alimentos subsidiados a clínicas de saúde com funcionários cubanos - serviu de base para a popularidade do socialista Chávez entre os pobres durante seus 13 anos no poder. Ele está tendo sucesso em provocar medo dizendo que seus projetos de bem-estar social, como a rede de saúde Barrio Adentro, serão desmantelados se a oposição vencer a eleição presidencial em 7 de outubro.
Apesar da euforia da oposição em selecionar um candidato único jovem - o governador de Miranda, Henrique Capriles - para disputar a eleição, os inimigos de Chávez sabem como será difícil conquistar sua base de apoio apaixonada e leal. Investindo dinheiro em mais projetos sociais em uma onda de gastos pré-eleitorais, Chávez obteve uma vantagem nas pesquisas de opinião antes da votação. Mas há desilusão entre alguns "chavistas", como são conhecidos seus partidários, e pesquisas mostram que cerca de um terço dos venezuelanos continuam indecisos. Um admirador do modelo econômico de livre mercado do Brasil e com uma sólida consciência social, Capriles insiste que vai manter o que houver de melhor nos programas de bem-estar de Chávez, e que pode mesmo ampliá-los.
"Eu quero expandi-los e me livrar da corrupção e da ineficiência que os caracterizam", disse Capriles à Reuters em uma recente turnê de campanha, acrescentando que mais da metade das clínicas de Barrio Adentro em seu Estado estavam abandonadas. A mensagem, no entanto, não chegou até quem estava na fila para castrar seus animais em La Vega. "A oposição quer parar tudo isso", disse Hilda Jimenez, segurando um casal de gatos. "Os governos não fizeram nada pelos pobres no passado. Só Chávez se incomodou conosco." Onipresença A parafernália da oposição espalhada pelos bairros de classe média de Caracas estava ausente das ruas de La Vega. Mas o onipresente vermelho do Partido Socialista de Chávez e imagens de "El Comandante" estavam em todo canto ali. Descendo o morro, dezenas de pessoas faziam fila para comprar em uma loja estatal Mercal, onde produtos básicos como leite, frango, óleo, arroz, feijão e açúcar são vendidos por um quarto do preço normal. Os funcionários da loja zombaram quando foram questionados sobre fotos da mídia da oposição mostrando lojas Mercal vazias. "Assim que os produtos chegam, as pessoas os compram imediatamente porque os preços são inacreditáveis", disse um deles. "É risível que a direita tente apresentar isso como algo ruim". Apesar do ódio visceral dos líderes da oposição, que enxergam como representantes de uma elite política velha e desacreditada, que nunca teve nenhum interesse pela maioria pobre da Venezuela, os ativistas chavistas são realistas.
Eles sabem que precisam lutar para impedir que o enérgico Capriles ganhe força. Eles pretendem destacar seu passado "burguês" em contraste com as origens humildes de Chávez, que foi criado por sua avó em um barraco rural. Também tentarão atingir Capriles por seu papel em um episódio nebuloso na embaixada cubana em 2002, quando foi acusado de fomentar um tumulto durante o caos que se seguiu a um golpe militar breve contra Chávez. Capriles diz que estava mediando.