São Paulo O presidente venezuelano, Hugo Chávez, ameaçou ontem fechar ou expropriar todas as escolas privadas que se negarem a adequar seu currículo às linhas ideológicas do governo bolivariano. "A sociedade não pode aceitar que o setor privado faça o que bem entender", afirmou o líder venezuelano, durante a inauguração de uma escola no primeiro dia do ano letivo na Venezuela. "Todos deverão se subordinar à Constituição e ao sistema educativo bolivariano e quem não quiser terá de fechar sua escola. Haverá intervenções, nacionalizações e assumiremos a responsabilidade sobre essas crianças", completou.
Segundo o presidente, todas as instituições de ensino do país deverão permitir a visita de inspetores indicados pelo governo, cujo principal objetivo será verificar se os conteúdos ministrados em sala de aula estão de acordo com o socialismo do século 21. Um novo currículo escolar elaborado por uma comissão ligada ao governo e livre dos "valores individualistas" dos sistemas de ensino capitalistas deverá ficar pronto nos próximos 12 meses. Além disso, será determinada a adoção de novos livros didáticos.
Nos últimos dois dias, o presidente fez três discursos cujo principal tema era a reforma no sistema educacional. No total, foram mais de 10 horas de discurso, nos quais Chávez leu e criticou os textos de alguns livros acadêmicos. De acordo com o ministro da Educação, Adán Chávez irmão do presidente até 2010 todas as escolas do país terão de inserir-se no sistema de educação bolivariano. Hoje essa rede inclui a maior universidade do país (a Universidade Bolívariana da Venezuela), mais de 4 mil escolas públicas, missões educativas administradas com o auxílio de profissionais cubanos e um sistema de pré-escola para menores de seis anos o "Simoncito" (diminutivo de Simón Bolívar).
A maior crítica da oposição é que tal sistema confunde educação com doutrinamento ideológico, além de oferecer cursos muito mais enxutos e de baixa qualidade (o diploma do ensino médio por exemplo, pode ser obtido em apenas dois anos quando em geral são necessários até cinco). "O presidente quer impor um discurso único por meio do sistema educacional e agora que já conseguiu consolidar essa sua rede de ensino paralelo, está investido contra as instituições privadas", diz o sociólogo Amalio Belmonte, que faz parte de uma comissão formada por professores da Universidade Central da Venezuela (pública, mas ainda independente) para analisar os projetos de reforma educacional.
Quando tomou posse em seu terceiro mandato, em janeiro deste ano, Chávez anunciou que a "educação popular" seria um dos cinco motores de sua revolução socialista. A meta, como explicou ele na época, seria usar o sistema educacional para produzir um "novo homem", comprometido com os valores revolucionários.
Em maio, o presidente anunciou o fim do vestibular para entrar nas universidades públicas. "O exame era um incômodo para o presidente porque os alunos do sistema bolivariano de ensino acabavam não passando, o que colocava em evidência a falta de qualidade de suas escolas", diz Octávio de Lamo, presidente da Câmara Venezuelana de educação privada. "O mais irônico dessas ameaças é que a maior parte dos alto funcionários do governo coloca seus filhos em escola privada".