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América Latina

Chávez, Correa e Evo apressam o “socialismo do século 21”

São Paulo – Em menos de 24 horas, o governo dos três países que se situam mais à esquerda na América do Sul anunciaram uma série de medidas econômicas destinadas a asfaltar o caminho na direção do que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, qualificou de "socialismo do século 21".

Na noite de segunda-feira, o próprio Chávez – que já determinou a nacionalização das operações petrolíferas e da maior parte dos serviços de infra-estrutura da Venezuela – ameaçou nacionalizar também clínicas e hospitais privados que abusem do preço dos tratamentos.

Horas depois, no Equador, o presidente socialista Rafael Correa – em meio a uma dura disputa com o Congresso do país por causa da realização do referendo para a instalação de uma Assembléia Constituinte – anunciou um plano econômico que subordina o pagamento do serviço da dívida externa ao financiamento de ambiciosos programas sociais.

Ontem pela manhã, o presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou a formação de uma comissão para negociar com a empresa italiana Euro Telecom a retomada por parte do Estado, nos próximos 30 dias, da empresa de telecomunicações Entel.

Mais que coincidência, as medidas indicam a convergência dos três países para um bloco socialista, antimercado e fortemente antiamericano.

Na esteira da revolução bolivariana chavista, Evo já promoveu, em maio, a nacionalização de todo o setor petrolífero boliviano. Correa promete trilhar o mesmo caminho, nacionalizando os hidrocarbonetos e os "setores estratégicos" da economia equatoriana, além de ameaçar freqüentemente desconhecer a dívida externa equatoriana.

Os três presidentes, sob a clara liderança de Chávez, são a ponta-de-lança de um movimento qualificado por vários cientistas políticos de "pouco responsáveis" e representam a negação do Con-senso de Washington – expressão cunhada pelo economista John Williamson, em 1990, que resume as recomendações básicas para o ajuste macroeconômicos dos países em desenvolvimento. Essas recomendações, feitas pelo FMI, Banco Mundial e Departamento do Tesouro dos EUA, contemplavam a redução do tamanho do Estados, privatizações, desregulamentações e rígida disciplina fiscal.

"Essas medidas ajudaram os países latino-americanos a controlar processos hiperinflacionários e a atrair capital externo, mas, é preciso reconhecer, pouco fez para reduzir a pobreza nos países da região", declarou ao Grupo Estado, por telefone, a porta-voz da sede equatoriana da Corporação Andina de Fomento (CAF), Cristina Abad. "O preço do controle fiscal, que reduziu programas sociais, foi o surgimento de líderes de perfil populista que catalisaram a revolta dos chamados despossuídos contra as políticas neoliberais." Em outras palavras, o camponês que recebe um litro de leite por dia graças a um programa governamental não vê nenhuma vantagem na suspensão desse programa em troca de índices macroeconômicos nacionais mais favoráveis. Mesmo sob o duvidoso argumento de que uma economia saudável lhe permitirá, no futuro, comprar seu próprio litro de leite.

"Estratégia Política"

"Nos bastidores desses movimentos populistas, o que menos importa é a questão econômica", declarou, também por telefone, o historiador venezuelano Manuel Caballero. "Não há política econômica de longo prazo. Pelo menos no que diz respeito ao caso da Venezuela, o que existe é uma estratégia política imediatista para que Chávez se perpetue no poder."

Caballero analisa que programas sociais são importantes para a satisfação das necessidades básicas dos mais fracos. Mas quando levados às últimas conseqüências, convertem-se em poderosos instrumentos de manutenção do poder.

"Em qualquer país da América Latina, são as camadas C, D e E que definem as eleições. Com isso, os programas sociais se transformam em moeda de troca", diz Caballero. "Enquanto houver dinheiro para que o Estado siga comprando parte do eleitorado, o governo de turno se mantém no topo. Não conheço bem os casos de Equador e Bolívia, mas no caso de Chávez é exatamente isso que acontece", argumenta.

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