Curitiba Hugo Chávez, presidente da Venezuela, ganhou expressão na última década como o mais novo ícone da postura antiimperalista, leia-se anti-Estados Unidos. Ainda hoje, no entanto, os analistas políticos se dividem quando avaliam o assunto. Não há uma conclusão definitiva sobre se o discurso ácido de Chávez o fortalece ou o enfraquece. A questão se torna crucial pelo fato de estar em jogo não apenas o destino do líder sul-americano. Sua retórica define também o futuro do país que governa, dizem os especialistas.
Os ícones da propaganda anti-EUA, como Chávez e Fidel, ficam só no discurso, aponta o especialista em Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Eiiti Sato. "Eles utilizam a retórica para se transformar em ícone e entrar para a história como um líder de oposição. Mas quais foram as vantagens deste tipo de discurso?"
O especialista analisa que o Brasil adota uma postura contraditória ao pretender construir uma política de unidade para a América do Sul e fazer um discurso pró-Chávez. Ao defender o líder venezuelano, se contrapõe a países que estão do lado dos Estados Unidos. "A vaga no Conselho de Segurança fica em xeque", acrescenta.
Além de ter de lidar com o delicado equilíbrio político na Venezuela, Hugo Chávez tende cada vez mais a se ver isolado, analisa o especialista em História da América Latina da Faculdades Curitiba, Renato Carneiro. "As alianças de Brasil e Argentina com a Venezuela colocam em risco as relações exteriores."
Do ponto de vista brasileiro, figuras como Chávez e Fidel "causam mais divisão do que outra coisa", argumenta Sato. "Qualquer aproximação com Chávez ou Fidel é problemática. Diferente da postura chavista, só se criam arestas quando necessário. Não se fica à procura de pontos para intriga."
Outro ponto crítico na postura de Chávez é que apesar do discurso populista, os venezuelanos enfrentam cada vez mais a pobreza, diz Carneiro. "O anúncio de Chávez oferecendo ajuda de calefação aos pobres nos EUA soa como provocação." Uma semana depois, com a chegada do furacão Katrina, o governo norte-americano declarou que vai aceitar toda e qualquer ajuda, de onde quer que ela venha. No entanto, é pouco provável que a oferta da Venezuela seja levada a sério por Washington.
Quando um líder opta por discussões que levam como pano de fundo os embates entre esquerda e direita, acaba por mascarar a situação interna de seu país, explica Carneiro. "Não sei até que ponto Chávez se beneficia disso. Tratá-lo como ícone de esquerda é algo ultrapassado." Sua postura estaria sendo construída em oposição aos Estados Unidos, e não sobre alicerces próprios.
Carneiro argumenta que a postura de Chávez é desesperada e sem rumo. "Ao mesmo tempo que propõe uma maior integração no Mercosul e a criação de uma refinaria de petróleo para a América Latina, há informações de apoio de Chávez às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, por exemplo", considera.
As inúmeras visitas de autoridades dos Estados Unidos na América Latina servem para mostrar que não perderam o controle na região, avalia Carneiro. "Chávez é objeto de perseguição dos EUA. Certamente não vão aceitar outra derrota, como foi o retorno de Hugo Chávez após o golpe de Estado."
Frágil gigante
O discurso chavista o fortalece e fragiliza, diz o especialista em História Econômica e Estudos Internacionais Latino-Americanos da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Enrique Amayo. "O governo Bush transformou Chávez em inimigo devido ao fato de que ele faz política de modo que os EUA não aprovam."
Chávez tem consciência de que a Venezuela é o quinto produtor de petróleo do mundo e de que é importante para os EUA, diz Amayo. "Bush gostaria que o petróleo venezuelano beneficiasse as multinacionais dos EUA. No entanto, a política de Chávez não favorece as multinacionais."
O problema de Chávez não está na atitude, porque "se vendesse a PDVSA (empresa estatal de petróleo) seria o queridinho dos EUA. A posição dele, que conta com o apoio popular, é de defesa do petróleo e das riquezas naturais do país", avalia Amayo. "Está havendo distribuição de renda no país, apesar da falta de industrialização."
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