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Venezuela

Chávez esconde crise atacando “à la Galtieri”

Chávez cria inimigos externos para desviar atenção de seu governo | Jorge SIlva/AFP
Chávez cria inimigos externos para desviar atenção de seu governo (Foto: Jorge SIlva/AFP)
Em 1982, Galtieri usou a invasão às Ilhas Malvinas para unir os argentinos em torno de um sentimento nacionalista |

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Em 1982, Galtieri usou a invasão às Ilhas Malvinas para unir os argentinos em torno de um sentimento nacionalista

Há o consenso entre historiadores e especialistas em política latino-americana de que a invasão argentina às Ilhas Malvinas, em 1982, foi um ato desesperado do governo militar para unir os argentinos em torno de um sentimento nacionalista criando um cenário propício para a perpetuação da ditadura no país. Àquela época a Argentina – sob governo do general Leopoldo Fortunato Galtieri Castelli – vivia uma grave crise econômica e social e apresentava altos índices de insatisfação popular. Um panorama não muito diferente do que vive hoje a Venezuela, governada pelo caudilho bolivarianista Hugo Chávez.

O recente episódio conflituoso envolvendo Colômbia e Venezuela fez estreitar ainda mais as semelhanças entre Chávez e Galtieri. Assim como fez o ditador argentino em 1982, Chávez agora declara sua própria guerra. Só que o inimigo é potencialmente bem menos poderoso belicamente do que a temida e poderosa Inglaterra enfrentada pelo outro décadas atrás.

A recente denúncia apresentada pelos colombianos à Organização dos Estados Americanos (OEA) – segundo a qual haveria guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia em território venezuelano – fez Chávez cortar relações diplomáticas com o país vizinho e deflagrar uma pronunciada batalha de nervos contra Rafael Uribe, atual presidente da Colômbia.

"Foi uma escolha equivocada, mas é também uma tentativa de inflamar um sentimento nacionalista em busca de uma aprovação para manutenção do regime por mais tempo", explica Clóvis Gruner, professor de história contemporânea da Uni­versidade Tuiuti.

A Venezuela é um dos maiores produtores de petróleo do mundo e tem como seu principal importador os Estados Unidos. Apesar disso, o país vive uma forte crise econômica que pode pôr em cheque os planos de Hugo Chávez de se manter no governo venezuelano por mais alguns anos. Em 2009, a inflação anual da Venezuela foi superior a 25%, taxa considerada a mais alta do continente americano. E as perspectivas dos economistas para 2010 apontam para um patamar inflacionário superior a 30%.

No auge da crise diplomática entre os dois países vizinhos, Chávez chegou a acusar a Colômbia de estar preparando, com a ajuda dos Estados Unidos, uma investida militar contra a Venezuela. Para Pedro Paulo Funari, coordenador do Centro de Estudos Avançados da Unicamp, tanto no caso de Galtieri quanto no episódio que envolve Chávez uma ameaça externa ajuda a aumentar a coesão interna. "É uma maneira de juntar as pessoas em torno de um ideal ou de um sentimento nacional. E, no caso da Venezuela, assim como aconteceu na Argentina em 1982, há sim o apoio popular", explica Funari. A investida argentina às Ilhas Malvinas foi prontamente dizimada pelos ingleses, o que acabou não apenas derrubando Galtieri do poder, como acelerando o fim do regime ditatorial que vigorava no país desde 1976. Já o conflito entre Colômbia e Venezuela não deve acabar em guerra. As previsões dos especialistas apontam para um entendimento pacífico entre Chávez e o presidente colombiano eleito, Juan Manuel Santos, que assume o governo no próximo dia 7. Apesar da perspectiva de acordo, o recente conflito trouxe novamente a instabilidade política à região. "Ainda não está muito claro em como esse conflito vai se traduzir politicamente na América Latina. Pode ser inócuo e não trazer nenhuma mudança, mas pode acontecer que isso evolua para um embate mais aberto. Não é altamente possível, mas ainda é uma hipótese", afirma Maria Aparecida de Aquino.

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